Anos depois, o misterioso roubo de manuscritos continua a acontecer

Há vários anos que a tentativa de roubo de manuscritos através de um esquema de phishing tem acontecido no meio editorial mundial. Os primeiros alertas foram dados em 2018, embora os factos fossem mais antigos. Mas agora o The New York Times conta que essas situações, tantos anos depois, continuam a acontecer. E há quem caia na esparrela.

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Antes e durante a Feira do Livro de Frankfurt estes ataques aumentam Reuters/Ralph Orlowski

Foi em Outubro de 2018, na altura em que ocorre a Feira do Livro de Frankfurt, que a revista norte-americana especializada no sector editorial, a Publishers Weekly, noticiou que a AAR - Association of American Representatives tinha enviado uma carta a alertar para um esquema de phishing que estava a acontecer no meio editorial.

Nesse mês, o grupo Penguin Random House também tinha enviado um comunicado com o mesmo alerta, divulgavam no artigo Phishing Scam Seeking Manuscripts Spreads Worldwide. Nessa época, o que se sabia, é que esse esquema de fraude estava a acontecer já desde há dois anos na Europa e na Ásia, e estava a começar a acontecer também no Reino Unido e nos EUA. Vários autores tinham recebido emails em que alguém que se fazia passar pelos seus verdadeiros editores, agentes ou scouts lhes pedia que enviassem as últimas versões dos manuscritos em que estavam a trabalhar por aquela via. Vários caíram na esparrela pois não só a mensagem era convincente, utilizando a linguagem comum no meio, como mostrava ter algum conhecimento relativamente ao trabalho do autor. Quando se recebia o email parecia ser o verdadeiro mas quando se respondia à mensagem essa resposta era enviada para um email ligeiramente diferente e para um outro domínio.

Nesse mesmo mês de Outubro, a revista especializada britânica The Bookseller tinha identificado uma agência de scouting que tinha sido apanhada no esquema, e a Publishers Weekly sabia que o mesmo tinha acontecido com agências em Barcelona, Istambul e Taipei. A época em que se realiza a Feira do Livro de Frankfurt, em Outubro, costuma ser a mais crítica para esses ataques.

O que se soube esta semana é que estes esquemas fraudulentos têm continuado desde essa altura. O jornal norte-americano The New York Times regressou a esta história mostrando que o esquema continua a afectar ainda hoje autores e editoras.

O artigo assinado por Elizabeth A. Harris, da secção de Cultura (que entretanto anunciou no seu Twitter que passará a ser uma repórter dedicada à área dos livros) e por Nicole Perlroth, jornalista especializada em cibersegurança que em Fevereiro do próximo ano lançará o livro This Is How They Tell Me the World Ends: The Cyberweapons Arms Race, revela que autores como Margaret Atwood, Jo Nesbo, ou Ian McEwan foram visados nesta fraude, outros novatos como Kiley Reid e celebridades como Ethan Hawke ou jornalistas como Dylan Farrow, também.

E fala com alguns autores que também estão entre os atacados como James Hannaham, autor do romance Fruta Deliciosa (Ed. Relógio d’Água), vencedor do Prémio PEN/Faulkner Ficção 2016.

O The New York Times assegura que aparentemente estes manuscritos não apareceram à venda nos sítios habituais da Dark Web, nem há tentativas de extorsão aos autores e editores. Dizem que no meio editorial há quem esteja convencido de que se trata de alguém com ligação ao trabalho de scouting, os agentes que são uma espécie de olheiros do futebol e que avisam os editores e produtores de séries e de cinema daquilo em que vale a pena apostar.

Outra das hipóteses que têm sido colocadas no meio editorial é que estes livros estão a ser traduzidos para português e mandarim e negociados nos mercados destas línguas. Esta é uma das hipóteses que no Twitter coloca a autora P J Manney nas discussões que entretanto se geraram nesta rede social. E as duas autoras do texto do New York Times estão a receber inúmeras mensagens de pessoas que acham que resolveram o mistério. 

Notícia alterada: onde se lia “no mercado chinês” passou a ler-se “nos mercados destas línguas"

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