A Criatura transformou pedras em pães e fez um disco para 2021

O disco só vai ser lançado em Janeiro, mas já começa a chegar em forma de pão, que replica a pedra que tem na capa. É Bem Bonda, o mais recente álbum do grupo Criatura.

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São criadores e criaturas, daí o seu nome. Aurora foi o seu primeiro álbum, lançado em 2016 após um percurso que foi juntando músicos e outros criadores e tomou forma em Serpa, no Musibéria, numa bem-sucedida residência artística. Cinco anos passados, com muitos espectáculos a cimentar a experiência, ei-los de volta à ribalta, desta vez com um disco que tem por nome uma das canções que já soava quando o álbum Aurora foi lançado: Bem Bonda. Na capa, uma pedra, fotografada por João Catarino e Catherina Cardoso, pedra essa que a Criatura transformou em pão para anunciar o disco. Percorreu várias capelinhas com um saco cheio de pequenos sacos e dentro de cada um lá estava a pedra recriada em pão, comestível. E com o pão vinha um código para ouvir as canções.

Pedra-pão, assim lhe chamaram, explicando no comunicado que o acompanhava: “O pão entrou no forno no Fundão, na Padaria Fonseca, e saiu do forno do Peter Pão, padaria natural. Feito em massa mãe, com farinha de trigo moída e mó de pedra em moinho de vento, todos os seus ingredientes são biológicos e provenientes de produtores locais, como a batata doce roxa, a beterraba e a curcuma, que dão cor ao pão junto de outros corantes comestíveis naturais sem conservantes.” O disco, esse, só será lançado no início do próximo ano, mas já é possível adiantar alguns dados.

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A capa do disco Bem Bonda

Nascido na Serra da Estrela

Gravado entre Março 2019 e Outubro de 2020 nos estúdios Namouche, Haus e Camaleão, Bem Bonda tem dez canções, uma das quais repartida em duas (O padeiro, 1 e 2) e conta com a formação actual da banda: de A a Z, Acácio Barbosa (guitarra portuguesa), Alexandre Bernardo (bandolim, guitarra acústica, cavaquinho), Cláudio Gomes (trompete), Edgar Valente (voz, piano, teclados e adufe), Fábio Cantinho (bateria), Gil Dionísio (voz e violino), Iúri Oliveira (percussões e Mbira), João Aguiar (guitarra eléctrica), Paulo Lourenço (baixo eléctrico) e Ricardo Coelho (gaita de foles, flauta transversal, ocarina e palhota). Além da participação especial de um músico que já fez parte do grupo, Yaw Tembe (trompete), e do Coro dos Anjos (do bairro dos Anjos, em Lisboa). Desta vez, a residência artística não foi no Alentejo mas na Beira Baixa, mais concretamente na Serra da Estrela. E a edição física especial do disco, que agora se anuncia, é editada com apoio da Câmara Municipal do Fundão e da Fundação GDA e foi concebida pelo artista plástico Diogo Vaz Cavaleiro, que foi também quem transformou a pedra em pão.

“Uma ode intervencionista”

Em 2016, ao falar de Aurora, já Edgar Valente associava a canção que dá título ao novo disco a outra fase: “A Bem bonda, por exemplo, é desta fase nova. Eu dei o impulso inicial, mas a vontade é isto ser cada vez menos meu e ser mais uma coisa de grupo. Isso já sucedeu quando estávamos em Óbidos a ensaiar para os Bons Sons. Eu tinha parte da letra escrita, com uma melodia, e de repente o pessoal agarra aquilo, a Isa escreve a parte dela, o Gil escreve a parte dele, as secções musicais juntam-se todas e em duas horas tínhamos essa canção nova feita. Que, a meu ver, é a música mais forte e a que traduz melhor a unidade do grupo, a nossa identidade.”

Agora, explicam o significado desse nome: “Bem Bonda é um resgate da ancestralidade linguística beiroa, uma expressão mutável, dependente das gentes e dos lugares, que dentro do mundo dos significados nos lembra não só que ‘já chega’, como também que, ‘como se não bastasse’, ‘um mal nunca vem só’.” O disco, por sua vez, é apresentado como “uma ode intervencionista à alternativa de evolução, à necessidade de mudança, à urgência de imaginarmos novos caminhos, sem esquecermos de onde vimos, da memória e da identidade da cultura que nos faz ser as criaturas que somos.” Criaturas que preferem “bando” a banda: “A Criatura é um eclético bando de músicos, artistas e gente que se dedica a revisitar a memória popular do território que habita e que a partir dela se propõe a criar música e arte que nasce de outras formas de olhar, sentir e ser a tradição.”

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