Carlos Moedas defende que 5G é “enorme oportunidade” para a Europa

O ex-secretário de Estado e antigo comissário europeu acredita que a Europa pode liderar o futuro da inteligência artificial e das novas redes 5G devido às escolhas políticas. Europa pode “construir uma 5G que seja segura” , defende Carlos Moedas.

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Carlos Moedas vê 5G e inteligência artificial para Europa voltar a ser uma das grandes potências tecnológicas Nuno Ferreira Santos

 O ex-secretário de Estado e antigo comissário europeu Carlos Moedas defendeu esta segunda-feira “um forte investimento numa solução europeia” em relação à quinta geração de redes móveis (5G), descrevendo a tecnologia como uma “oportunidade enorme” para a União Europeia.

Carlos Moedas falava em videoconferência durante um evento online organizado pelo Partido Social Democrata (PSD), no qual um dos temas em debate foi a tecnologia e a posição da União Europeia em relação aos mais recentes avanços tecnológicos.

Na corrida para o domínio tecnológico, particularmente em áreas como a inteligência artificial, a luta pelo primeiro lugar parece ser cada vez mais entre os EUA e a China.O antigo comissário europeu começou por recordar, no entanto, que “a primeira vaga da tecnologia foi extremamente europeia”, uma vez que “as primeiras empresas que construíram a infra-estrutura da Internet eram todas europeias”. O continente perdeu foi na segunda vaga com empresas norte-americana como a Google e o Facebook a dominar. “Aí perdemos completamente, não tivemos hipótese nenhuma”, admitiu Moedas.

“Agora, temos uma terceira vaga”, indicou Carlos Moedas. “Vai ser diferente da primeira e da segunda, mas terá, sem dúvida, um mecanismo muito mais de tecnologia e daquilo que os engenheiros chamam de ‘deep tech’, ou seja, de ir ao cerne da ciência da tecnologia, que o digital não tinha.”

Áreas como a inteligência artificial e o 5G “vão definir o nosso futuro”, e, neste contexto, a Europa tem a oportunidade de definir “não só pela tecnologia, mas através de escolhas políticas”.

O actual foco da União Europeia é liderar a criação de sistemas em que os utilizadores podem confiar. Em Abril de 2019, por exemplo, a Comissão Europeia publicou um “guia ético para inteligência artificial de confiança” para ajudar os Estados-membros a avançar na área, respeitando princípios europeus como o direito à privacidade, autonomia, e justiça.

“A inteligência artificial deve ser algo que nos melhore como seres humanos, não algo que nos substitua; deve ser algo que respeite a nossa privacidade, algo em que os nossos dados estejam protegidos. Esta é uma das grandes armas que temos geopolíticas”, sublinhou Carlos Moedas esta segunda-feira.

Europa pode “construir uma 5G que seja segura"

Em relação à tecnologia do 5G, o Carlos Moedas defende uma “solução europeia”, sobretudo porque “a Europa tem metade das patentes da 5G, enquanto a China tem 30% e os Estados Unidos 12%”.

“Talvez isto explique parte da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, porque os norte-americanos, em termos de 5G, estão a perder totalmente a batalha para a Europa e para a China, o que nos dá uma oportunidade enorme, mas que muitas vezes não conseguimos sentir”, notou.

Nos últimos anos, os Estados Unidos e a China sido protagonistas de uma guerra comercial devido à tecnologia das redes 5G com Pequim a ser acusado de querer utilizar a infra-estrutura para espiar nos países rivais. Uma das empresas visadas é a chinesa Huawei visto que o fundador da empresa, Ren Zhengfei, trabalhou na área de tecnologia do exército chinês ao longo da década de 1970, antes de se juntar ao Partido Comunista Chinês — como tal, a empresa estará na esfera do regime de Pequim. 

“O problema hoje do 5G são as chamadas portas de entrada”, notou Carlos Moedas. “Ou seja, são tecnologias que têm portas de entrada e nas quais um governo pode entrar e ir buscar informações sobre as nossas vidas. Temos de ser capazes de nos proteger disso.”

Para o ex-comissário europeu, a União Europeia tem de ter capacidade de “construir uma 5G que seja segura e que não deixe que os governos possam intervir nessa tecnologia”.

“Aquilo que se está a ver hoje é que ninguém tem a certeza de que uma tecnologia chinesa, neste caso, não tivesse uma intervenção do governo na própria infra-estrutura da tecnologia”, continuou Moedas. “Neste momento, seria muito difícil politicamente para a Europa dizer que aceitaria uma solução puramente chinesa. Eu acho que o caso do 5G é um excelente exemplo onde podemos trabalhar pela nossa inteligência, com a nossa tecnologia, pela nossa assertividade.”

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