Bósnia: partidos étnicos vencem as primeiras eleições realizadas em Mostar em 12 anos

Partidos croata e muçulmano bósnio, que representam as duas comunidades maioritárias, e rivais, da cidade, foram os mais votados.

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Irma Baralija celebra o resultado eleitoral do seu partido que integra o multiétnico Bloco BH DADO RUVIC/Reuters

Depois de 12 anos sem eleições, a cidade bósnia de Mostar foi finalmente a votos e os resultados preliminares apontam para que os partidos étnicos – um croata e outro muçulmano bósnio – sejam os mais votados.

A coligação multiétnica moderada Bloco BH teve votos suficientes para poder entrar numa coligação com um dos partidos vencedores para o conselho municipal de 35 lugares.

Mostar, conhecida pela sua ponte otomana, destruída durante a guerra civil (1992-1995), e depois reconstruída, é a cidade mais multiétnica da Bósnia, mas as duas comunidades maioritárias, croata católica e muçulmana bósnia, vivem maioritariamente separadas pelo rio Neretva desde o fim da guerra.

Os dois partidos não conseguiram, durante mais de dez anos, chegar a acordo para estabelecer regras eleitorais para que houvesse eleições. Em 2019, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos decidiu a favor da professora de Filosofia Irma Baralija, que processou a Bósnia-Herzegovina por não realizar eleições na cidade, dando um prazo de seis meses para a sua realização.

Baralija foi uma das candidatas por um partido multiétnico que faz parte do Bloco BH. “Espero que o meu exemplo inspire os cidadãos de Mostar”, disse antes da votação, “para que se apercebam de que, como indivíduos, podemos trazer mudanças positivas”.

A decisão do tribunal, afirmou Baralija, “desfez o mito que nos tem vindo a ser apresentado de que um indivíduo não pode mudar nada e que só temos interesse enquanto membros dos nossos grupos étnicos.”

Até agora, a cidade era gerida por um presidente da câmara, Ljubo Beslic, do partido croata, com um executivo com representantes do partido muçulmano bósnio, mas não havia uma assembleia para supervisionar o seu trabalho.

Cada parte da cidade tem sido gerida pela sua autoridade, mas a infra-estrutura tem decaído, o lixo nem sempre é recolhido e há problemas gerais de funcionamento da cidade, um dos destinos turísticos da Bósnia-Herzegovina.

Desde o final da guerra, Mostar tem vários serviços em duplicado, um para cada parte da cidade: dois correios, dois fornecedores de água e electricidade, dois hospitais públicos.

“O mais importante é ter-se levado a cabo a eleição”, disse Faruk Kajtaz, jornalista e analista de Mostar à televisão N1.

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