“Há espaço” em Jerusalém para uma capital palestiniana, diz Benny Gantz

Ministro da Defesa e líder do Partido Azul e Branco defende que “Jerusalém deve continuar unida”, mas admite que pode albergar futura capital de um Estado palestiniano. No entanto, Gantz pode estar a referir-se à cidade de Abu Dis, uma hipótese rejeitada pela Autoridade Palestiniana.

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Benny Gantz apelou à Autoriade Palestiniana para voltar à mesa das negociações com Israel CORINNA KERN/Reuters

O ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, disse que há espaço em Jerusalém para a capital de um futuro Estado palestiniano, apesar de rejeitar a divisão da cidade e de garantir que Israel não vai regressar às fronteiras anteriores a 1967.

As declarações do também líder do Partido Azul e Branco, parceiro do Likud de Benjamin Netanyahu no Governo, foram feitas numa entrevista ao jornal saudita Asharq al-Awsat, numa altura em que o executivo israelita pode cair, caso não consiga aprovar o Orçamento até quarta-feira, 23 de Dezembro.

Os palestinianos querem e merecem uma entidade em que possam viver de forma independente”, afirmou Gantz na entrevista. “Queremos uma entidade palestiniana que tenha uma contiguidade territorial adequada, em que seja possível viver confortavelmente, sem obstáculos ou entraves”, acrescentou o ministro, numa rara entrevista de um dirigente israelita a um jornal árabe.

“Chamem-lhe um Estado ou um reino”, continuou Gantz, os palestinianos “têm o direito a sentir-se independentes e de terem uma capital”, e em Jerusalém “há espaço”. “O que insistimos é na segurança. Precisamos de pontos de observação estratégicos para segurança”, sublinhou.

No entanto, Gantz acrescentou que “Jerusalém deve continuar unida, mas com um espaço no seu interior para uma capital palestiniana”.

Conforme nota o Times of Israel, o ministro da Defesa israelita poderá estar a referir-se a Abu Dis, uma pequena cidade fora dos muros da Cidade Santa que faz parte do distrito de Jerusalém, e que foi o local apontado como futura capital de um Estado palestiniano no plano de paz apresentado por Donald Trump no início do ano.

Na altura, o “acordo do século”, nas palavras do Presidente dos Estados Unidos, foi bem recebido em Israel, mas imediatamente rejeitado pelo presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas.

Para uma solução de paz na região, os palestinianos defendem uma solução de dois Estados, com um Estado palestiniano independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com capital em Jerusalém Oriental e um regresso às fronteiras de 1967, data do final da Guerra dos Seis Dias.

Esta solução, no entanto, tem sido rejeitada pelos sucessivos governos israelitas, e o próprio Benny Gantz deixou bem claro que o Estado hebraico não voltará às fronteiras de 1967, apesar de admitir que Israel pode não anexar todo o Vale do Jordão, que constitui cerca de 30% dos territórios palestinianos ocupados.

A entrevista de Gantz acontece menos de uma semana depois de Marrocos anunciar a normalização das relações diplomáticas com Israel, tornando-se no quarto país a fazê-lo desde Agosto, seguindo-se aos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Sudão.

Os palestinianos consideram o reconhecimento do Estado hebraico por parte destes países como uma traição à causa da criação de um estado independente, no entanto, Gantz considera que tal deve ser encarado como um incentivo para israelitas e palestinianos se sentarem à mesa das negociações.

O ministro da Defesa israelita apelou mesmo a Mahmoud Abbas e à Autoridade Palestiniana, que em Novembro admitiu voltar a conversar com o Estado hebraico, para assumirem um discurso “novo e moderno”. “Assim que chegarmos um acordo sobre questões de segurança, a solução política será muito mais fácil”, defendeu Gantz.

As declarações do líder do Partido Azul e Branco não foram bem recebidas dentro do Governo israelita, com o ministro do Ensino Superior, Zeev Elkin, do Likud, a criticar Gantz.

“Benny está confuso. Não existe espaço para uma capital palestiniana numa Jerusalém unida. Não há e nunca haverá. É simples: não”, escreveu Elkin, considerado um aliado próximo de Netanyahu, na rede social Twitter.

Ao admitir a possibilidade de uma capital palestiniana em Jerusalém, Gantz rompe ainda mais com a coligação de Governo que junta o seu Partido Azul e Branco ao Likud, cuja dissolução pode consagrar-se já na quarta-feira, quando o Orçamento for votado no Knesset (Parlamento israelita).

Se, ao que tudo indica, o partido de Ganz votar contra, o Parlamento é automaticamente dissolvido e os israelitas terão de ir novamente a eleições em Março - seriam as quartas legislativas num período de apenas dois anos.

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