Saxofonista dá concerto ao longo de 24 horas a partir de Aveiro para todo o mundo

Para trazer alguma alegria a este ano atípico, Henk van Twillert, músico holandês que se fez aveirense, decidiu promover uma jornada musical que se estenderá ao longo de 24 horas. A partir da capela de São Gonçalinho para todo o mundo.

Foto
Adriano Miranda

Quando Henk van Twillert deu nota do seu propósito, houve quem lhe sugerisse tentar registar o feito no Livro do Guiness, proposta que ele rapidamente recusou. “Isto não é uma tentativa de recorde”, assegura. “É algo pessoal, que faço pelas pessoas do bairro onde vivo e que estão tristes por causa desta pandemia”, prossegue o saxofonista holandês que há uns anos se perdeu de amores pelo bairro típico da Beira-Mar e das suas gentes. Esta sexta-feira, a partir da capela do padroeiro do bairro, São Gonçalinho, irá dar um concerto que será transmitido em directo, através da internet, e que se estenderá ao longo de 24 horas. A cada hora certa, Henk interpretará, durante cerca de 25 minutos, vários programas musicais. O restante tempo será preenchido com conteúdos multimédia relativos à tradição de São Gonçalinho e à cidade de Aveiro.

Será uma longa jornada e Henk van Twillert tem consciência disso. Ainda assim, diz-se “fisicamente e mentalmente preparado”. Ainda no dia anterior a conversar com o PÚBLICO, tinha feito uma corrida de 17 quilómetros. O saxofonista, de 61 anos, vai estar sozinho na capela, juntamente com a equipa técnica que assegurará a transmissão em directo (através do Facebook e Youtube), mas conta com a presença de todos a partir das suas casas. “As pessoas do meu bairro e não só. Também do resto do país e da Holanda, de onde sou natural”, perspectiva.

Henk van Twillert é um apaixonado pela música, pelo ensino (dá aulas de saxofone) e também pela cidade da ria, mais concretamente pelo bairro da Beira-Mar, onde reside desde 2006. “As pessoas abriram-me os seus braços, as suas casas e as suas janelas”, testemunha. Sentiu-se de tal forma parte do bairro que, em 2008, quando se casou com Laurinda, fez a festa “nas ruas, com os vizinhos”. “Foi um porco no espeto, apesar de eu ser vegetariano”, recorda, com humor.

Perante as adversidades deste ano marcado pela pandemia, e consciente de que não consegue “salvar o mundo”, o saxofonista entendeu que talvez fosse bom começar por “salvar o bairro” onde vive. “E se cada um for fazendo algo pelo seu bairro, talvez consigamos salvar o mundo”, desafia.

A partir das 12h00 desta sexta-feira, vai para a “luta” munido da arma que domina como muito poucos, o seu saxofone. Interpretará peças de Bach, Beethoven, Mozart, Ennio Morricone, Astor Piazzolla, Carlos Paredes, José Afonso e George D. Weiss, entre outros. Henk preparou um alinhamento que vai desde a música clássica às músicas de Natal, passando pelas músicas tradicionais portuguesas.

Além de pretender levar alguma alegria a quem está do outro lado do ecrã, a assistir, este mega concerto tem também um cariz solidário. A Mordomia de São Gonçalinho, que assume a organização do concerto em parceria com o músico holandês, decidiu aproveitar esta iniciativa para promover os pequenos negócios e o comércio do bairro, contemplando, ainda, uma recolha de fundos para os projectos humanitários da Paróquia da Vera Cruz e acções da mordomia. Segundo explicou ao PÚBLICO Rui Pereira, da mordomia, nos intervalos das actuações do músico, ao longo das 24 horas, serão divulgados conteúdos multimédia relativos à tradição das festas de São Gonçalinho, conteúdos institucionais da cidade de Aveiro e vídeos de promoção do comércio local, entre outros. “É uma forma de também ajudarmos o bairro, dando cumprimento ao lema da actual mordomia: ‘dar voz ao bairro’”, destaca.

Esta iniciativa acontece numa data em que, por tradição, o bairro já estaria a preparar-se para viver a sua grande festa anual, em honra do seu padroeiro. Na Beira-Mar, o início de Janeiro é sempre sinónimo de festa rija, que a pandemia restringirá, este ano, a algumas acções mais simbólicas.

Sugerir correcção
Comentar