Hotéis contestam proibição “em cima de hora”, já há reservas de Ano Novo canceladas

As baixas taxas de contaminação da covid-19 no Algarve, dizem os empresários, não exigiam medidas tão restritivas. O cancelamento de reservas, nos poucos hotéis abertos, já começou.

Foto
Rui Gaudencio

O anúncio do agravamento das medidas sobre o estado de emergência não tardou a produzir efeitos. “Muitas reservas estão a ser canceladas”, diz o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, sublinhando que as restrições que estavam em vigor “já eram suficientemente penalizadoras para o sector turístico”. Cerca de 80% das unidades hoteleiras da região estão encerradas, sem perspectivas de a situação vir a melhorar nos tempos mais próximos.

A proibição de circulação na via pública no Ano Novo, que entra em vigor às 23h de dia 31 de Dezembro, observa o representante, observa o representante dos hoteleiros, “além de ser desmotivadora para quem se preparava para sair de casa, é incompreensível”.

Uma medida desta natureza, sublinha, “não devia ter sido tomada em cima da hora”. A amplitude das repercussões daí resultantes, “ainda não pode ser traduzida em números, mas não há dúvida que prejudica as pessoas, as empresas e o próprio Estado que não cobra impostos das receitas”.

Além da hotelaria tradicional e restauração, os reflexos estendem-se ao mercado de aluguer de moradias e apartamentos, um segmento muito procurado para as festas particulares de fim-de-ano. “Recebemos hoje [sexta-feira] três cancelamentos de aluguer de vivendas”, afirma o administrador da Garvetur, Reinaldo Teixeira, em Vilamoura, informando que tem pedidos de 43 reservas, menos dez que em igual período do ano passado.

Reinaldo Teixeira entende que a situação epidemiológica que se vive no Algarve - com taxas de contaminação abaixo da média nacional - “não levaria a supor que a região fosse alvo de medidas tão restritivas”. No entanto, manifesta a esperança de que a partir da Páscoa as coisas possam começar a mudar. “Sentimos que as pessoas estão desejosas”, enfatiza.

Por seu turno, o director de operações da Vila Galé, Carlos Cabrita, acha que o reforço das medidas do estado de emergência “foi mais um prego no caixão” da economia. Do conjunto das nove unidades deste grupo hoteleiro, no Algarve, apenas se encontra a funcionar o hotel Ampalius, em Vilamoura, com uma taxa de ocupação na casa dos 12%. Nos anos anteriores, recorda, “as festas de passagem do ano esgotavam”.

A decisão tomada pelo Governo de restringir a circulação de pessoas na quadra natalícia não surpreendeu o administrador dos hotéis Pestana, Pedro Lopes. “Já esperávamos que acontecesse. É pena, mas é esta a realidade”, ditada pela covid-19. Por conseguinte, o grupo acautelou a abertura de apenas um dos 11 hotéis e empreendimentos que tem na região.

O que está a funcionar, mas apenas a meio gás, são os cinco campos de golfe que o grupo hoteleiro explora. “Estamos em hibernação”, sintetiza o gestor, fazendo votos para que a vacina permita o desabrochar do turismo a partir da Páscoa. Um dos novos hotéis do grupo encontra-se reservado ao serviço do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), para eventualidade de poder vir a ser utilizado para alojar “doentes Covid”, mas ainda não foi necessário.

Sugerir correcção
Comentar