Covid-19: profissionais de saúde já estão a ser inquiridos sobre se querem ou não ser vacinados

Profissionais de saúde que recusarem ser vacinados têm de preencher formulário. Presidente da associação das unidades de saúde familiar diz que centros de saúde ainda pouco sabem sobre operação de vacinação.

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Reuters/POOL

Há administrações regionais de saúde que já estão a perguntar aos profissionais se querem ou não ser vacinados contra a covid-19, uma vez que a vacinação não é obrigatória, revela o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-NA), Diogo Urjais. Os profissionais de saúde são um dos grupos prioritários a inocular na primeira fase da megaoperação que se previa arrancar no início de Janeiro mas que poderá vir a ser antecipada, depois de a Agência Europeia do Medicamento ter anunciado que vai concluir a avaliação da vacina da PFizer-BioNtech na próxima segunda-feira, oito dias antes do que estava inicialmente previsto.

Estará Portugal preparado para antecipar a campanha de vacinação e arrancar ainda antes do final deste ano? No início de Dezembro, a directora médica da Pfizer Portugal garantiu que, após a aprovação, bastariam três dias para colocar as primeiras doses nos locais definidos, mas resta saber se está tudo a postos para arrancar com a operação no país.

O subdirector-geral da Saúde, Rui Portugal, acredita que sim, mas remete a resposta para o coordenador da “task force” do plano nacional de vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos. Se a vacina for aprovada no dia 21, “todo o esforço deve ser feito para que todas as questões logísticas sejam antecipadas oito dias e certamente que os meus colegas terão isso em conta”, afirmou, na habitual conferência de imprensa da Direcção-Geral da Saúde. Ao PÚBLICO, Francisco Ramos, que esta quarta-feira vai ser ouvido na Comissão Parlamentar da Saúde, afirmou que haverá mais informações no dia seguinte, altura em que deverão ser revelados detalhes sobre o calendário da vacinação.

O primeiro-ministro tinha sugerido na semana passada que 4 e 5 de Janeiro seriam “excelentes dias para começar” a vacinar contra a covid-19. Caso haja uma antecipação de oito dias, isto permitiria, em teoria, que o início da vacinação em Portugal arrancasse ainda antes do final deste ano. Se isso acontecer, “será mais por uma questão política, simbólica porque eventualmente vão ser poucas as doses a chegar”, acredita o presidente da associação das USF, que lamenta que os profissionais dos centros de saúde ainda pouco saibam sobre esta megaoperação que vai ficar essencialmente a seu cargo na primeira fase em que vão ser vacinadas 950 mil pessoas (além dos profissionais de saúde, os idosos e funcionários dos lares e doentes com mais de 50 anos e patologias de maior risco).

A associação, que teve uma reunião com a “task force” no final de Novembro, enviou entretanto os seus comentários ao plano de vacinação, mas não recebeu mais informações desde então, lamenta o enfermeiro que teme que a operação arranque “em cima do joelho, como é apanágio em Portugal”.

Lembrando que vai ser necessário convocar as 400 mil pessoas acima dos 50 anos com as doenças graves elencadas no plano, Diogo Urjais defende que o processo de pesquisa destas já devia ter começado, ou centralmente pela Administração Central do Sistema de Saúde, que tem acesso “aos diagnósticos activos” através dos processos clínicos electrónicos, ou localmente, pelas unidades funcionais dos centros de saúde através do sistema informático.

O delegado de saúde regional de Lisboa e Vale do Tejo disse ao Correio da Manhã que os coordenadores das equipas de enfermagem dos agrupamentos de centros de saúde desta região estão já a identificar estes doentes, apesar de ainda não haver quaisquer directrizes nesse sentido. “Se o estão a fazer, é por sua iniciativa, porque não há nenhuma indicação. O que houve foi um pedido de informação da ARS do Centro aos agrupamentos de centros de saúde para identificarem os profissionais que se querem vacinar. Os que não quiserem – e creio que a maioria quererá – têm que preencher um formulário, como já acontece com a vacina da gripe”, relata.

O que acontecerá aos que recusarem? Garantindo que “a intenção da recusa vacinal” em Portugal “é baixa ou muito baixa”, o subdirector-geral da Saúde remeteu também para a “task force” a resposta à questão sobre se os profissionais de saúde serão ou não reposicionados nas suas funções, caso optem por não ser vacinados.

Nos grupos prioritários a serem vacinados na primeira fase incluem-se ainda as forças de segurança e, segundo adiantou esta terça-feira o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses à Lusa, também serão imunizados cerca de 12.500 bombeiros de corporações do país.

com Natália Faria e Filipa Almeida Mendes

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