Afinal, em que ficamos?

No início deste mês, e sem ser grande notícia em Portugal, a OCDE mudou drasticamente de opinião em relação ao crescimento do PIB nacional. Afinal, em que ficamos?

Até ao início deste mês, as previsões para 2021 e 2022 sobre as grandes variáveis macroeconómicas portuguesas eram mais ou menos todas semelhantes, existindo diferenças de apenas umas décimas, o que para a altura que vivemos aceita-se perfeitamente.

O Orçamento do Estado para 2021 prevê um crescimento do PIB em 5,4% para esse ano, devido ao incremento das exportações de bens e serviços e do investimento. A previsão do crescimento do PIB foi revista em alta, atendendo à previsão de um crescimento de 4,3% no Orçamento suplementar de 2020.

Por seu lado, o Banco de Portugal, em junho deste ano, previu um crescimento do PIB para 2021 de 5,2%, devido ao previsível forte crescimento do consumo privado e algum crescimento do investimento. No tocante à Balança Comercial, as importações aumentarão mais do que as exportações, agravando o seu saldo.

O Conselho de Finanças Públicas prevê um crescimento do PIB em 2021 de 4,8%, também devido ao forte aumento do consumo privado e do investimento. Tal como para o Banco de Portugal, o Conselho de Finanças Públicas estima que o aumento do PIB só não é superior devido ao agravamento previsível do saldo da Balança Comercial.

As previsões de outono da Comissão Europeia também não são muito diferentes das anteriores. Este organismo prevê um crescimento do PIB de Portugal em 2021 de 5,4% e em 2022 de 3,5%. Estes crescimentos estão fortemente alicerçados no crescimento do investimento e das exportações. Com estas previsões demoraríamos cerca de 2,5 anos para recuperar o nível do PIB anterior à pandemia. A Comissão Europeia prevê ainda que a nossa dívida pública feche 2021 em 130,3% do PIB e 2022 em 127,2% do PIB.

Por outro lado, o Fundo Monetário Internacional previu um aumento em 5% do PIB.

Em junho deste ano, a OCDE traçou as suas previsões macroeconómicas atendendo a dois cenários. No cenário de apenas uma vaga da covid-19, o PIB cresceria 6,3% em 2021, mas no cenário de duas vagas, existiria também um aumento do PIB, mas mais modesto, tendo fixado para este cenário um aumento de 4,8%.

No início deste mês, e sem ser grande notícia em Portugal, a OCDE muda drasticamente de opinião em relação ao crescimento do PIB. Fundamentalmente com a justificação de que o turismo irá recuperar lentamente, o nosso país em 2021 crescerá apenas 1,72% e em 2022 1,87%. Em termos de emprego, a OCDE prevê que em 2021 sejam perdidos mais 85.000 postos de trabalho e só em 2022 é que será criado emprego líquido ao aumentarem em 104.000 os postos de trabalho. Caso se verifiquem estes cenários, cresceremos muito abaixo da média dos países da OCDE, da média dos países da zona euro, da média dos países da União Europeia e do crescimento médio do PIB mundial.

Nesta previsão, com a exceção da Finlândia, todos os outros 35 países da OCDE nos dois anos considerados crescerão em termos percentuais mais do que o nosso país.

Mas, afinal, em que ficamos? Se esta última previsão da OCDE se verificar teremos sérios problemas. Em primeiro lugar, a dívida pública colar-se-ia perigosamente aos 140% do PIB. Em segundo lugar, com estes modestos crescimentos será difícil o desemprego diminuir. Por último, e atendendo às baixas expectativas, o investimento retrai-se e torna-se um ciclo vicioso entre crescimento económico, investimento e criação de emprego.

Para a OCDE, estas projeções podem ser alteradas se ocorrerem duas situações: por um lado, se a pandemia for controlada rapidamente e, por outro, se os fundos europeus forem eficazmente injetados na economia e sem grandes demoras.

Se ocorrer este cenário, demoraremos uns longos quatro anos a recuperar o nível do PIB anterior à pandemia.

Por outro lado, esta semana o Banco de Portugal reviu as suas previsões. Atendendo ao forte impacto do turismo no PIB, a nova previsão para o crescimento do PIB em 2021 é de apenas 3,9% em 2021 e de 4,5% em 2022. Como o turismo vai recuperar lentamente, a nossa retoma será também lenta, ao contrário dos países que não dependem tanto do turismo.

O turismo proporciona receitas, investimento e gera emprego, embora mal pago porque não acrescenta valor. O que nos falta nas últimas décadas é o problema do costume: indústria que crie valor, que faça aumentar a produtividade e os salários.

Vale a pena pensarmos nisto numa altura em que tudo é tão incerto.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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