Trump anuncia saída de William Barr minutos após a votação do Colégio Eleitoral

Procurador-geral foi um dos maiores defensores do Presidente dos EUA na fase das investigações sobre a Rússia, mas a relação esfriou quando Trump começou a fazer acusações infundadas de fraude eleitoral.

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Barr disse que não viu provas de fraude generalizada na eleição presidencial Reuters/TOM BRENNER

O procurador-geral dos EUA, William Barr, vai sair do cargo no dia 23 de Dezembro, um mês antes do fim do seu mandato e da tomada de posse do Presidente eleito, Joe Biden, marcada para 20 de Janeiro.

A saída de Barr foi anunciada pelo Presidente Trump, no Twitter, minutos depois de o estado da Califórnia ter confirmado a vitória de Joe Biden na eleição presidencial de 3 de Novembro, com os votos dos seus representantes no Colégio Eleitoral.

“Acabei de ter uma reunião muito simpática com o procurador-geral William Barr na Casa Branca. O nosso relacionamento tem sido muito bom e ele fez um trabalho extraordinário”, disse Trump, apontando como motivo para a saída as razões que o próprio Barr avançou na carta que lhe enviou: “Barr vai sair pouco antes do Natal para passar a época com a família.”

O lugar de William Barr vai ser ocupado de forma interina pelo vice-procurador-geral, Jeff Rosen.

Relação esfriou

Numa carta em que elogia o trabalho do Presidente Trump muito para além das áreas relacionadas com a pasta da Justiça, o procurador-geral afasta-se da Casa Branca de forma aparentemente amigável.

Mas o relacionamento entre Trump e Barr piorou nos últimos meses, com o Presidente dos EUA a sugerir que o procurador-geral também fez parte de um plano para o prejudicar na eleição contra Joe Biden. Em particular, Trump culpou Barr por não ter anunciado a abertura de investigações sobre o filho de Biden, Hunter Biden, antes da eleição de 3 de Novembro.

Antes disso, Barr tinha rejeitado as queixas de fraude eleitoral lançadas por Trump, dizendo que o Departamento de Justiça não tinha indícios de fraude numa escala que retirasse legitimidade à vitória de Biden.

A saída de William Barr antes do tempo era falada desde a semana passada. Segundo os jornais norte-americanos, Barr começou a ponderar a saída logo após a eleição presidencial de 3 de Novembro.

Investigações sobre a Rússia

William Barr foi nomeado procurador-geral (attorney general, um misto de ministro da Justiça e procurador-geral) por Trump no início de 2019, depois da demissão de Jeff Sessions.

Sessions, um antigo senador do Alabama que foi um dos primeiros apoiantes da candidatura de Trump à Casa Branca, no Verão de 2015, caiu em desgraça no círculo do Presidente dos EUA nos primeiros meses de 2017.

Nessa altura, o então procurador-geral cedeu a supervisão das investigações sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 ao seu vice, Rod Rosenstein, e ficou na mira de Trump. Depois de meses de humilhação pública, com o Presidente dos EUA a dizer, em várias ocasiões, que estava arrependido de o ter nomeado, Jeff Sessions apresentou a demissão em Novembro de 2018.

O actual procurador-geral foi nomeado para substituir Sessions devido à sua oposição às investigações sobre as suspeitas de conluio entre a campanha eleitoral de Trump e a Rússia nas eleições de 2016. Para além disso, William Barr era, há muito, um dos maiores defensores da tese de que os presidentes dos EUA têm quase total liberdade para tomar decisões sem serem questionados pelo Congresso e pelos tribunais.

A conferência de imprensa em que apresentou, segundo a sua versão, os principais resultados das investigações do Departamento de Justiça sobre a Rússia, em Abril de 2018, foi vista pelos críticos como um branqueamento das acusações feitas no relatório final pelo procurador especial Robert Mueller.

Dias depois da conferência de imprensa, Mueller enviou uma carta à liderança do Departamento de Justiça, onde acusou o procurador-geral de “não captar na totalidade o contexto, a natureza e a substância” do relatório.

Sem indícios de fraude 

A sintonia entre Barr e Trump manteve-se até antes das eleições de 3 de Novembro, com o procurador-geral a corroborar as acusações do Presidente dos EUA de que o processo podia vir a ser fraudulento.

E, no dia 9 de Novembro, Barr autorizou o Departamento de Justiça a usar os seus recursos na investigação das queixas de fraude feitas por Trump – apesar da garantia do próprio governo de que as eleições tinham sido as mais seguras de sempre, e sem indícios de que as acusações fossem mais do que queixas infundadas.

A relação parece ter estourado no início de Dezembro, quando William Barr tomou a iniciativa de falar com a Associated Press sobre os resultados das investigações. Ao confirmar que, para além dos problemas habituais, não foram encontrados indícios de fraude generalizada que pusessem em causa a vitória de Joe Biden, o procurador-geral viu-se numa posição semelhante à do seu antecessor.

A entrevista de Barr à Associated Press foi publicada poucos dias depois de Trump ter sugerido, numa entrevista no canal Fox News, que o próprio Departamento de Justiça e o FBI estariam envolvidos na suposta fraude.

E, há duas semanas, o Presidente dos EUA voltou a queixar-se da forma como o seu procurador-geral estava a gerir as investigações. “Ele não tem feito nada”, disse Trump, acrescentando que o Departamento de Justiça e o FBI “não têm investigado com muita vontade, o que é uma desilusão”.

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