Mais de 6,4 milhões de venezuelanos votaram em consulta popular da oposição

Eleitores foram desafiados a rejeitar a legitimidade das legislativas que deram a vitória aos partidos que apoiam o Governo de Nicolás Maduro. Resultados devem ser conhecidos este domingo.

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Mesa de voto dos organizadores da consulta popular MARCO BELLO/Reuters
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Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela Rayner Pena R./EPA
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Consulta da oposição não é reconhecida pelo Governo venezuelano Henry Chirinos/EPA

O comité organizador da consulta popular promovida pelo líder da oposição na Venezuela e autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, que tinha como objectivo rejeitar os resultados das eleições legislativas do início do mês, anunciou no sábado à noite que mais de 6,4 milhões de pessoas participaram na iniciativa, representando 31,22 % dos eleitores venezuelanos.

Segundo o coordenador nacional do comité organizador, Enrique Colmenares Finol, participaram na consulta 6.466.791 pessoas, das quais 3.209.714 presencialmente na Venezuela e 844.723 fora do país.

Além disso, 2.412.354 pessoas votaram pela internet, através de duas aplicações, Telegrama e Voatz, disponíveis desde segunda-feira.

Colmenares explicou que, até agora, “87,44% de todo o esquema eleitoral foi contado”, embora não tenha dado informações sobre quantas pessoas votaram contra ou a favor das propostas. Os resultados devem ser conhecidos este domingo.

Três perguntas

Na consulta, os eleitores tinham de responder “sim” ou “não” a três perguntas que foram aprovadas pela Assembleia Nacional, actualmente com maioria da oposição, mas cujo mandato termina a 5 de Janeiro.

A primeira pergunta a que os participantes tinham de responder era se rejeitavam as eleições legislativas de domingo passado – boicotadas pela oposição e vencidas pelos partidos que apoiam o Presidente Nicolás Maduro.

Foi ainda perguntado aos eleitores se exigiam “a cessação da usurpação da presidência por Nicolás Maduro” e se apelavam “a eleições presidenciais e parlamentares livres, justas e verificáveis”.

Apesar de não ter fornecido os resultados das respostas, Colmenares disse que os dados mostram que “a Venezuela disse ‘sim’ à liberdade”.

“Hoje houve um grande vencedor: a Venezuela e a sua liberdade, hoje temos de nos sentir orgulhosos de sermos venezuelanos, de, num momento tão difícil, sairmos com a nossa presença e a nossa acção para dizer ao mundo que queremos a liberdade”, afirmou.

Tanto a consulta convocada por Guaidó como as eleições legislativas organizadas por Maduro registaram um elevado nível de abstenção, apontou o politólogo Jesus Castillo-Molleda, que considera que “ambos os sectores perderam a rua, não estão ligados aos problemas das pessoas”.

Para o analista Rafael Alvarez Loscher, “a oposição não foi capaz de canalizar o descontentamento, porque não atingiu os seus objectivos, e isto desmoralizou o povo”.

“Embora sejam contra Maduro, poucos vêem a necessidade de associar o seu nome a algo que não tenha qualquer efeito legal ou político”, acrescentou.

“Charlatão” e “fantoche”

Esta não é a primeira vez que a oposição organiza uma consulta deste tipo. Uma iniciativa semelhante levou à rejeição da Assembleia Constituinte 100% chavista em 2017, após meses de protestos repressivos que resultaram em 125 mortes.

Nessa altura, a oposição alegou ter obtido 7,6 milhões de votos contra a Assembleia Constituinte.
Maduro tinha minimizado a importância da consulta convocada por Guaidó, que descreveu como um “charlatão” e um “fantoche” nas mãos dos Estados Unidos.

“Ninguém poderá acreditar que esta consulta na Internet tenha qualquer valor jurídico ou constitucional, apenas um valor informativo”, disse aos deputados na quinta-feira.

No domingo passado, a aliança de partidos que apoiam o Governo do Presidente Nicolás Maduro venceu as eleições legislativas, com 67,6% dos votos, segundo o Conselho Nacional Eleitoral, conquistando 255 dos 277 lugares no Parlamento.

No entanto, para Juan Guaidó não há deputados eleitos porque, disse, não reconhece os resultados. O dirigente político afirmou aos jornalistas que se está a passar o mesmo que em 2018, quando Maduro foi eleito como Presidente numas eleições não reconhecidas por parte da comunidade internacional.

Em Janeiro do ano passado, Juan Guaidó proclamou-se presidente interino e foi reconhecido por meia centena de países, incluindo Portugal, Brasil ou Estados Unidos.

Ainda que se desconheçam os resultados da participação ou a resposta dos cidadãos, Juan Guaidó assegurou que a actual Assembleia Nacional vai continuar.

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