A gala Michelin faz sentido em ano de pandemia?

O impacto não será o mesmo, consideram os chefs ouvidos pelo PÚBLICO. Mas compreendem a necessidade de “manter alguma normalidade”.

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Evento Gelinaz Silent Voices, no Belcanto, dia 3 de Dezembro Filipa Fernandez

A gala de lançamento do Guia Michelin Espanha e Portugal 2021 realiza-se, em versão digital, esta segunda-feira, dia 14 (estava inicialmente prevista para 30 de Novembro), e pode ser acompanhada em galaguia.michelin.pt. Mas fará sentido, num ano em que os restaurantes de todo o mundo tiveram que se manter encerrados durante meses e em que desde que reabriram trabalham com enormes restrições, manter as galas em que o Guia Michelin anuncia as estrelas do ano?

Os chefs com estrelas Michelin ouvidos pelo PÚBLICO consideram que ela deve acontecer, apesar da situação complicada que se vive. Mas não será igual aos outros anos. “Em termos de comunicação, não vai beneficiar quase ninguém”, diz António Loureiro, do restaurante A Cozinha, em Guimarães. “Obviamente que quem ganhar vai ter alguma publicidade mas não vai brilhar da maneira que deveria brilhar. O impacto não será o mesmo.”

Será “um ano mais de contenção”, acredita Filipe Carvalho, do Fifty Seconds, em Lisboa. “É importante para apoiar a restauração, porque, assim que isto voltar ao activo, as pessoas que se regem pelo Guia vão continuar a fazê-lo. E é uma forma de o Guia mostrar que está connosco, apesar destas adversidades.”

Aliás, sublinha Diogo Rocha, do Mesa de Lemos, em Silgueiros (Viseu), durante o ano o Guia tomou várias iniciativas de apoio aos restaurantes, contactando-os para saber como estava a situação e lançando vouchers para incentivar ao consumo. Só lamenta que a gala não tivesse acontecido em meados de Novembro, porque acredita “no impacto que tem, na energia que dá” ao sector.

Seria “mais sensato não haver gala”, defende Rui Paula, mas, por outro lado, o chef da Casa de Chá da Boa Nova, em Matosinhos, compreende que ela se realize para “não deixar morrer e dar uma palavra a mostrar que estão connosco”.

“Toda a gente tenta manter alguma normalidade”, constata, por seu lado, José Avillez, do Belcanto, em Lisboa. “Se vierem para tirar estrelas, faria sentido suspender a gala, porque seria uma grande injustiça. Mas se vêm para dar estrelas, isso só está a incentivar alguns a continuar. Espero que venham com essa postura.”

O mesmo diz João Rodrigues, que espera que só deixem de ter estrela “os restaurantes que encerraram definitivamente”. Apesar de este ser “um ano perdido” e não um tempo de celebrações, “o fundamental é dizer que vamos continuar a fazer a nossa vida dentro da normalidade possível”.

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