Marcelo consegue apoio do CDS, mas com contestação

Maioria expressiva de conselheiros votou a favor do apoio à recandidatura. João Almeida ataca Presidente da República: é “a figura da geringonça”.

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João Almeida responsabilizou o Presidente da República por decisões de um "pantano" na democracia Paulo Pimenta

O conselho nacional do CDS aprovou por uma maioria muito confortável o apoio à candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa mas ouviram-se fortes críticas ao Presidente da República por parte de antigos e actuais destacados dirigentes como João Almeida, Nuno Melo e Telmo Correia. A reunião, em que participaram mais de 200 conselheiros nacionais, decorreu através de uma plataforma digital por causa da pandemia. No momento da votação, 153 conselheiros nacionais votaram a favor, 34 votaram contra a 28 abstiveram-se.

Apesar da expressiva votação, o nome de Marcelo Rebelo de Sousa esteve longe de ser consensual entre os conselheiros nacionais. O eurodeputado Nuno Melo condenou a substância e a forma de actuação do Presidente da República ao dizer que não gosta de o ver “seminu a banhos ou a levar vacinas num braço”, apurou o PÚBLICO. Participando com uma imagem de fundo em que Marcelo Rebelo de Sousa está a dançar entre dois socialistas, Ferro Rodrigues e Fernando Medina no festival Rock in Rio, Nuno Melo considerou que o apoio do Presidente à geringonça foi “explícito” e que, em muitos momentos quando o CDS criticava aspectos da governação, Marcelo esteve de braço dado com António Costa.

Apesar da intervenção dura contra o chefe de Estado, o ex-vice-presidente do partido disse que votaria a favor da proposta da direcção mas que não está entusiasmado com a candidatura. O líder do CDS comentou no final de ouvir todas as intervenções: “O entusiasmo deixo para cada um”.

No arranque da discussão, ao final desta manhã, o líder do partido considerou que Marcelo é a “escolha certa”, afastando a hipótese de o CDS não apoiar nenhum candidato presidencial ou até de correr o risco de ficar colado ao candidato do Chega, André Ventura. Apontando o actual Presidente como a figura capaz de “unir o espaço político da direita e o país”, Francisco Rodrigues dos Santos não poupou nos méritos de recandidato. É um “moderado”, acredita na “democracia liberal, “no humanismo personalista”, é “seguidor da doutrina social da Igreja” e é “um homem da AD”.

Depois de já ter criticado publicamente o Presidente da República nos últimos meses, o líder do CDS decidiu agora evitar apontar o dedo a Marcelo perante os conselheiros nacionais. Apontou-o como o garante da “estabilidade” e lembrou que só nos primeiros quatro anos o Presidente da República vetou tantos diplomas como Cavaco Silva em dois mandatos, alguns dos quais com o aplauso do CDS.

O argumento de tentar afastar o Presidente de uma colagem ao Governo foi frontalmente contestado por João Almeida, líder da lista alternativa à direcção do partido, no último congresso, com o apoio da linha política da ex-líder Assunção Cristas e do anterior presidente, Paulo Portas. O deputado foi duro ao dizer que “a figura da geringonça não é António Costa, é Marcelo Rebelo de Sousa” e que o Presidente “caucionou os erros” desta governação. O ex-candidato à liderança do CDS contrariou ainda a ideia de colar o antigo presidente do PSD a uma figura da AD (como membro do Governo nessa altura) e acusou Marcelo de ser uma “figura central de um pântano” da democracia, apontando a cumplicidade na nomeação do ministro das Finanças para o Banco de Portugal, a nomeação da nova Procuradora-Geral da República, no apoio à festa do Avante! e congresso do PCP, e defendendo o fim do SEF. Exemplos de um “pântano” em que a “direita popular democrática não se pode rever”.

O líder da bancada parlamentar, Telmo Correia, também disse olhar para Marcelo Rebelo de Sousa como um “permanente defensor do Governo”, assumindo uma “decepção” com o primeiro mandato.

Mais brando mas assumindo também a discordância no apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, Adolfo Mesquita Nunes apontou o dedo à direcção do partido por não ter definido já uma posição clara sobre as presidenciais (uma posição partilhada por outros conselheiros) e acusou mesmo Francisco Rodrigues dos Santos de entrar em contradição ao querer optar agora pelo recandidato, quando foi crítico do chefe de Estado nos últimos meses. O ex-vice-presidente do CDS aproveitou para dizer que foi a direcção do partido que recusou o seu nome para uma candidatura a Belém e que, dessa forma, não seria candidato contra o CDS.

A questão viria a ser retomada pelo líder do partido, numa segunda intervenção, para rejeitar qualquer responsabilidade na decisão de Adolfo Mesquita Nunes, referindo que a direcção não foi contactada pelo antigo dirigente e que não houve qualquer veto formal da comissão política ao nome.

Mas era precisamente o nome de Adolfo Mesquita Nunes que o ex-deputado Hélder Amaral assumiu ser uma “magnífica possibilidade”, além de reiterar que não votará em Marcelo Rebelo de Sousa. O principal motivo foi a forma como o chefe de Estado geriu as consequências políticas dos fogos de 2017.

O nome de Adolfo Mesquita Nunes também seria a escolha de João Gonçalves Pereira, líder da distrital de Lisboa, mas como não é candidato o voto vai para Marcelo Rebelo de Sousa. O deputado reconheceu aspectos positivos no primeiro mandato e destacou como negativo o de ficar “ao lado do Governo”.

Em defesa do apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, Filipe Lobo d’Ávila, primeiro vice-presidente do CDS, considerou ser a “melhor solução” e um candidato que “não representa uma aventura”. O dirigente considerou que o primeiro mandato foi “positivo”, embora nem sempre tivesse acompanhado as opções do Presidente da República.

Assumidamente contra a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa esteve a Tendência Esperança em Movimento, corrente interna do CDS. O porta-voz, Mário Cunha Reis, votou contra a proposta do partido para apoiar um segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa. 

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