Celpa quer apoios ao investimento na produção de eucalipto e pinheiro-bravo

A produção florestal de eucalipto e pinheiro-bravo em Portugal “não tem acompanhado” o crescimento da indústria. Em consequência, as importações de madeira atingem os 200 milhões de euros por ano. Com um novo PDR à vista, as papeleiras pedem apoios ao investimento na floresta de produção.

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nelson garrido

A Celpa – Associação da Indústria Papeleira, que agrega as 14 empresas industriais e florestais pertencentes a Altri, DS Smith, Renova e The Navigator Company, as quais produzem 100% da pasta de fibra virgem nacional e cerca de 90% de todo o papel e cartão, estão insatisfeitas com o “quadro legislativo” para a floresta que tem vigorado nos últimos anos. Queixam-se que é “prejudicial” à indústria e que gera “um impacto negativo na dinâmica do investimento”.

Ao PÚBLICO, Luís Veiga Martins, director-geral, diz que “este facto implica que a produção florestal de material lenhoso, e, em particular, de eucalipto e pinheiro-bravo, não tem acompanhado o aumento internacional da procura pelos seus produtos e o consequente crescimento da indústria”. E isso, diz, tem “exigido importações [de madeira] de cerca de 200 milhões de euros por ano destas espécies, por vezes de qualidade inferior” à que se produz em Portugal.

Em causa estão, entre outros diplomas legais, a resolução do Conselho de Ministros n.º 6-B/2015, de 4 de Fevereiro, que aprovou a Estratégia Nacional para as Florestas, a qual determinou o congelamento, até 2030, da expansão dos povoamentos de eucalipto, cuja produção lenhosa é predominantemente integrada na indústria papeleira. Uma limitação que os dois pacotes legislativos para a floresta aprovados na última e na actual legislaturas não fizeram reverter.

“Perdemos a oportunidade de produzir em Portugal, permitindo, assim, equilibrar a balança comercial, criar emprego, gerar riqueza e aumentar a coesão territorial onde o acesso a outras actividades está condicionado”, lamenta o director-geral da Celpa.

Luís Veiga Martins avisa, “A manter-se esta situação, não aumentamos a resiliência dos espaços contra os incêndios rurais e não potenciamos, em paralelo, o restabelecimento e manutenção de espaços de conservação e protecção”. Ou seja, “o potencial produtivo florestal em Portugal continuará a ser subaproveitado”. 

O PÚBLICO questionou Luís Veiga Martins sobre que mudanças substanciais, ao nível da gestão do futuro Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), deveriam ser introduzidas, de modo a fazer-se uma aplicação mais eficaz dos fundos europeus disponíveis nos próximos sete anos.

O director-geral da Celpa é taxativo: “A floresta deveria ser objecto de um programa florestal no âmbito do segundo pilar” da PAC - Política Agrícola Comum, referente aos apoios ao investimento. Um programa “assente em dois tipos essenciais de medidas”, diz Veiga Martins. Em primeiro lugar, “medidas ambientais, tradicionalmente designadas por silvo-ambientais, que compensam acréscimo de custos/redução de receitas associadas a práticas com impactos positivos no ambiente e clima”, como o pagamento dos serviços de ecossistemas. Em segundo lugar, “medidas de apoio ao investimento, visando intervenções mais estruturais nos territórios florestais”.

A Celpa ainda defende que os apoios financeiros para estas “medidas transversais à floresta” pudessem ser “regionalizados”, também se incluindo “programas específicos para cada uma das principais fileiras”: eucalipto, pinho e sobro.

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Luís Veiga Martins, director-geral da Celpa, defende que “a floresta deveria ser objecto de um programa florestal no âmbito do segundo pilar” da Política Agrícola Comum, que se refere aos apoios ao investimento. nuno ferreira santos

Volume de negócios “recuou”, exportações “semelhantes”

As “medidas transversais à floresta” defendidas pela Celpa não estão desligadas da conjuntura actual nem da crise pandémica e económica que o país vive desde meados de Março, à qual a indústria papeleira não é imune.

Luís Veiga Martins admite que, apesar de a quantidade exportada dever “continuar em níveis semelhantes ao passado recente” e de haver “alguma expectativa de melhoria no preço da pasta nos mercados internacionais”, as empresas associadas da Celpa “não ficam à margem dos impactos que a pandemia tem em todas as actividades”. E o volume de negócios das suas associadas no primeiro semestre “recuou, quando comparado com o período homólogo de 2019”.

No entanto, esse recuo “não se relaciona apenas com o consumo”, que, no tissue, “aumentou momentaneamente, embora acabando por diminuir nos restantes segmentos”. A quebra nas vendas deve-se, também, aos “preços da pasta de papel e do papel nos mercados internacionais, que tem vindo a estar deprimido”, frisa o director-geral da Celpa.

Apesar desse quadro económico, e quanto à floresta, Luís Veiga Martins garante: “Continuámos a trabalhar [durante a pandemia].” A floresta, sendo “um activo de longo prazo”, não pára. “Continuámos a apoiar os agentes económicos, empresas de reduzida dimensão, de cariz familiar e regional, evitando uma quebra de actividade”, acrescenta Veiga Martins. Com isso, diz, contribui para que os fornecedores, prestadores de serviço e proprietários “mantenham as suas receitas e os empregos”. Caso contrário, “resultaria numa crise imediata”.

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