Sem filhos e sem culpas: estas mulheres nunca quiseram ser mães

Inês, Andreia, Ana e Luz não se conhecem, mas são capazes de completar as frases umas das outras. Com idades na casa dos 30 e dos 40 anos, têm em comum apenas o facto de nunca quererem ter sido mães.

Inês, Andreia, Ana e Luz não se conhecem, mas são capazes de completar as frases umas das outras. Com idades na casa dos 30 e dos 40 anos, têm em comum apenas o facto de nunca quererem ter sido mães. Isso e uma experiência semelhante de se sentirem incompreendidas numa sociedade que as considera "egoístas" e que espera que "mudem de opinião" a qualquer momento.

Inês Antunes tem 32 anos. Não sabe se abdicou conscientemente da maternidade. Fala com naturalidade de uma vontade que nunca sentiu, mas que tem dificuldade em explicar quando lhe exigem uma razão. Precisa de ter uma razão? "Às vezes, pode magoar-nos um bocadinho. Como, se calhar, pode magoar eu perguntar a alguém porque é que quer ser mãe? Porque é que me dizem que eu vou mudar de opinião?"

Andreia Conceição, seis anos mais velha, reconhece este comportamento, mas recusa entrar numa discussão. Família e amigos sabem que nasceu "sem relógio biológico" e fora do círculo íntimo não há espaço para grandes argumentos. Se fala sobre o assunto é porque considera importante "desmistificar a questão de não ter filhos". "Eu não vou ser uma pessoa que não sou. E filhos não se têm para fazer o favor a ninguém", remata.

Também sem filhos e sem qualquer intenção de os vir a ter, Ana Filipe já se habituou às "bocas" no trabalho. "Tu não tens filhos, tens muito tempo livre", dizem-lhe muitas vezes. Mas, aos 40 anos, Ana tem outros planos. "Toda a gente interiorizou que a mulher tem que nascer, crescer, reproduzir-se e depois morrer. E eu digo não."

Luz Rito tem 46 anos e não sabe bem quando é que deixaram de lhe dizer "que ia mudar de ideias". Mas tem uma revelação a fazer, diz, entre gargalhadas: "Não estou arrependida e continuo fervorosamente childfree".