Em cinco praias do Norte, chega a haver quatro vezes mais lixo do que sargaço

A equipa de investigação do CIIMAR, da Universidade do Porto, queria estudar a importância ecológica do sargaço, mas os investigadores ficaram “chocados com a quantidade de lixo que aparecia misturado” com as algas.

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Na comunidade piscatória de Vila Chã, em Vila do Conde, uma antiga sargaceira ainda se dedica à apanha de sargaço Adriano Miranda

Há mais lixo do que a habitual deposição de sargaço em cinco praias do Norte. A conclusão é de um estudo desenvolvido por investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), publicado na revista internacional Journal of Marine Science and Engineering.

Se no início o intuito da equipa era estudar o sargaço, compreender a sua importância ecológica e como este recurso, resultado da deposição natural de algas e ervas marinhas nas praias, podia ser valorizado, a investigação mudou de rumo quando começaram a analisar o sargaço nas praias de Moledo, Vila Praia de Âncora, Cabedelo, São Pedro de Paramos e a Barrinha de Esmoriz. 

Os investigadores ficaram “chocados com a quantidade de lixo que aparecia misturado”. “Encontrámos sempre pelo meio uma quantidade enorme de lixo, então decidimos adicionar esta componente de lixo ao estudo e, a partir daí, além de quantificarmos o sargaço e a espécie de algas que apareciam no sargaço, começámos a quantificar o lixo para poder comparar”, afirmou Marcos Rubal, investigador do centro da Universidade do Porto. 

Durante o estudo, que se iniciou em 2017, a equipa de investigadores optou por escolher praias “pouco urbanizadas” e fazer a recolha de sargaço, algas e lixo em dois momentos diferentes, um durante o verão e outro durante o inverno.

“O resultado do nosso trabalho é que tanto a quantidade de sargaço como a quantidade de lixo variam muito, tanto entre praias como entre datas”, disse, acrescentando, no entanto, que a quantidade de lixo pode ser “até quatro vezes superior ao peso total do sargaço”, especialmente no inverno.

Durante essa altura do ano a deposição de lixo, como restos de cordas, redes emaranhadas, linhas de pesca, rolhas plásticas para a cultura do mexilhão e uma variedade de plásticos, era superior, sobretudo devido “aos temporais e ao aumento do nível das águas, por exemplo do rio Minho”.

“O tipo de lixo mudava muito entre o inverno e o verão”, acrescentou Marcos Rubal, afirmando que na estação mais quente o lixo encontrado assentava em beatas de cigarros, restos de comida, pequenos plásticos, garrafas de água, pacotes de sumo e outros poluentes.

Filipa Bessa
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O próximo passo da equipa passa por perceber como é que o lixo pode alterar o papel do sargaço, que compreende importantes serviços ecológicos nas praias arenosas como a manutenção do ciclo de nutrientes ou das cadeias tróficas marinhas, no ecossistema costeiro.

“O que fizemos foi quantificar a quantidade de algas, sargaço e lixo que havia, agora sabemos que há esta quantidade de lixo e o próximo passo é estudarmos os efeitos que pode ter”, afirmou, acrescentando que investigações noutros países indicam que a ingestão de plástico não é positiva para os animais que se alimentam do sargaço e que os seus efeitos podem ser nefastos.

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