Ana Gomes já tinha denunciado ligações entre PJ e Doyen, após visita a Rui Pinto

Exposição foi realizada em 2019, não tendo seguimento. Tribunal extraiu certidão que poderá reabrir processo arquivado sobre irregularidades da polícia na investigação do processo de Rui Pinto.

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Ana Gomes é candidata à Presidência da República Miguel Manso

As alegadas ligações entre o fundo de investimento Doyen e a Polícia Judiciária, expostas esta quinta-feira no julgamento de Rui Pinto, já tinham sido denunciadas por Ana Gomes no ano passado. A candidata à Presidência da República confirmou ao PÚBLICO que após ter visitado Rui Pinto na prisão, em Abril de 2019, denunciou os emails trocados entre o inspector Rogério Bravo e o advogado do fundo de investimento, Pedro Henriques

“Fiz esta exposição com a confirmação por parte do Rui Pinto. Ainda na Hungria, ele tinha dito que existiam elementos da PJ que ‘estavam feitos’ com a Doyen. Quando o visitei pela primeira vez na prisão perguntei-lhe quem eram esses elementos. Então fiz uma exposição a dizer que precisava de ser investigado”, confirmou Ana Gomes.

Esta troca de correspondência poderá voltar a ser investigada, após o tribunal ter remetido uma certidão para um processo sobre o tema que já tinha sido arquivado. Após o seguimento dos trâmites normais, foi considerado que “não havia nada a explorar”, relembra Ana Gomes, que não perseguiu nova investigação. Esta exposição foi endereçada à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, e ao Director Nacional da PJ, Luís Neves. 

A primeira vez que Rui Pinto fez referência a uma eventual ligação secreta entre PJ e Doyen foi na Hungria, na audiência em que a Justiça húngara decidiu a extradição para Portugal. “A Doyen pode dizer o que quiser, ainda por cima se elementos ligados à Doyen tiverem reuniões clandestinas com inspectores da PJ que nem fazem partes do processo? Isto é gravíssimo. E quando vemos inspectores da PJ a usarem emails pessoais para falarem com elementos da Doyen e a tratá-los quase como amigos? O Ministério Público investiga isto? Não investiga”, afirmou Rui Pinto em Budapeste.

O denunciante garantiu que a correspondência electrónica na sua posse implicava elementos de topo da Polícia Judiciária, considerando que estes contactos mostravam que a investigação foi feita de forma “completamente irregular”.

Esta quinta-feira, o colectivo de juízes encarregue do julgamento do pirata informático Rui Pinto abriu a porta à investigação da actuação da Polícia Judiciária no caso Football Leaks, ordenando a extracção de uma certidão, que será remetida para um processo que tinha sido arquivado e visava apurar se algum inspector da Policia Judiciária actuou de forma criminosa no âmbito deste caso.

Na sessão de julgamento, o antigo advogado do fundo de investimento, Pedro Henriques, revelou que a PJ lhe indicou em 2015 o nome de um jornalista que poderia ajudar a Doyen a divulgar uma versão alternativa dos factos aquela que estava a ser divulgada pelo site Football Leaks. Depois, o ex-advogado da Doyen revelou também que o inspector Rogério Bravo lhe sugeriu uma proposta de requerimento – que foi depois efectivamente foi enviado em nome da Doyen para a Procuradoria-Geral da República. Uma actuação que a magistrada considerou não ser normal.

O tribunal abre agora a porta para que a actuação da Polícia Judiciária na investigação do Football Leaks seja investigada. Será o Ministério Público a dizer se a investigação avançará.

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