Trump reconhece soberania de Marrocos sobre o Sara Ocidental em troca da normalização de relações com Israel

Como parte do acordo que faz de Marrocos o quarto país árabe a estabelecer relações oficias com Israel, Trump reconhece a soberania marroquina sobre o território à espera do referendo de autodeterminação decidido pela ONU.

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Protesto em Marrocos contra o acordo de paz entre Israel e a Palestina apresentado pela Casa Branca em Fevereiro e rejeitado pelos palestinianos JALAL MORCHIDI/EPA

Israel e Marrocos anunciaram esta quinta-feira que alcançaram um acordo para normalizar relações – trata-se do quarto país árabe a estabelecer laços com o Estado judaico desde Agosto, num esforço promovido pela Administração Trump. Em troca, o Presidente americano aceitou reconhecer a soberania de Marrocos sobre o Sara Ocidental, que as Nações Unidas consideram “um território não autónomo pendente de descolonização”.

“Uma proposta de autonomia séria, credível e realista de Marrocos é a ÚNICA base para uma solução justa e duradoura para a paz e a prosperidade”, escreveu Trump no Twitter.

Ocupada por Marrocos desde 1975, a antiga colónia espanhola ainda espera pelo referendo sobre a autodeterminação decidido pela ONU mas nunca realizado – a meio de Novembro, a Frente Polisário, movimento independentista apoiado pela Argélia e reconhecido pelo Conselho de Segurança como representante legítimo do povo sarauí, anunciou que considera sem efeito o cessar-fogo em vigor há 29 anos.

O anúncio surgiu em resposta a uma intervenção militar das Forças Armadas marroquinas na zona desmilitarizada de Guerguerat, a pretexto de porem fim a um protesto de manifestantes pacíficos que bloqueava uma estrada de acesso à Mauritânia para exigirem à ONU a organização da consulta prometida.

Os EUA comprometeram-se ainda a instalar um consulado na cidade sarauí de Dajla: há meses que Marrocos trabalha para atrair consulados ao Sara Ocidental, procurando assim o reconhecimento implícito à sua soberania. A maioria dos países que o fizeram são africanos e, até agora, o de maior relevo tinha sido os Emirados Árabes Unidos, precisamente o primeiro país a estabelecer laços com Israel, em Agosto. Seguiram-se Bahrein e Sudão.

Num comunicado do palácio real a dar conta do telefona entre Mohamed VI e Trump a selar o acordo, diz-se que o Presidente dos EUA promulgou um decreto a reconhecer a soberania marroquina “sobre o conjunto da região do Sara marroquino” e que Marrocos se comprometeu a estabelecer relações diplomáticas com Israel “o mais depressa possível”, assim como a autorizar voos directos para a comunidade judaica marroquina e para os turistas israelitas.

Marrocos, que antes da fundação de Israel tinha uma grande população judaica – centenas de milhares de judeus israelitas têm origens marroquinas –, mantém uma população de vários milhares de judeus.

O país do Norte de África tem há anos laços informais com Israel. A decisão de estabelecer relações diplomáticas totais, diz Mohamed VI, não afectarão “o compromisso permanente em relação à causa palestiniana”.

Opinião bem diferente será a dos palestinianos, que consideraram uma traição os acordos alcançados nos últimos meses que contrariam a posição oficial da Liga Árabe, exigindo que o reconhecimento de Israel seja acompanhado pela criação de um Estado para os palestinianos.

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