Apresentadora de televisão é a terceira jornalista assassinada no Afeganistão desde Novembro

Afeganistão é um dos países no topo da lista da Federação Internacional de Jornalistas, que continua a ter o México no topo: dos 42 jornalistas assassinados este ano, 13 foram mortos neste país da América Latina.

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A jornalista Malalai Maiwand foi assassinada por um homem armado depois de sair de casa a caminho da televisão onde trabalhava GHULAMULLAH HABIBI/EPA

Malalai Maiwand foi assassinada a tiro com o seu motorista esta quinta-feira de manhã quando se dirigia para a redacção da Enikaas TV, em Jalalabad, no Leste do Afeganistão. O assassínio da apresentadora, que era ainda activista dos direitos das mulheres e das crianças afegãs, é o terceiro de um jornalista no país em pouco mais de um mês – segundo o balanço anual da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), 42 jornalistas foram mortos este ano no mundo enquanto trabalhavam.

Maiwand trabalhava como pivot na televisão e na rádio da Enikaas, uma emissora privada da volátil província de Nangarhar, que faz fronteira com o Paquistão. Zalmai Latifi, director do canal, ouvido pela agência de notícias alemã dpa, responsabilizou “inimigos do país” pela morte e disse que a Enikaas tem recebido ameaças de morte. Em 2017, uma explosão junto às instalações do canal matou várias pessoas, incluindo um dos seus motoristas. Um ano depois, o então director foi raptado.

Ninguém reivindicou o assassínio desta quinta-feira, mas tanto os taliban como o Daesh são muito activos na região. Os ataques contra jornalistas, políticos ou activistas aumentaram nos últimos meses, apesar das conversações de paz entre o Governo afegão e os taliban.

Só em Novembro, dois conhecidos jornalistas foram mortos em atentados. Aliyas Dayee, de 33 anos, já tinha sido ameaçado pelos taliban pelo seu trabalho na Radio Free Europe/Radio Liberty (financiada pelos Estados Unidos): no dia 12, morreu na explosão de uma bomba colocada no seu carro em Lashkar Gah, na província de Helmand, onde vivia. Dias antes, a 7 de Novembro, Yama Siawash foi morto precisamente nas mesmas circunstâncias, em Cabul, pouco tempo depois de deixar o trabalho como pivot no canal Tolo News.

De acordo com a contabilidade do Comité para a Protecção dos Jornalistas, Dayee foi o 50.º jornalista morto no Afeganistão desde a intervenção internacional de 2001 contra os taliban e a Al-Qaeda. Entre jornalistas e afegãos a trabalhar para media, dez foram assassinados no país em 2019; no ano anterior tinham sido 20.

No relatório anual da FIJ, que será divulgado esta quinta-feira numa conferência organizada pela UNESCO e pelo Governo holandês para assinalar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Afeganistão surge em terceiro lugar, a par da Índia, do Iraque e da Nigéria, com três jornalistas mortos este ano. A seguir ao México, que com 13 jornalistas assassinados volta a liderar a lista, pela quarta vez em cinco anos, está o Paquistão, com cinco assassínios.

A FIJ contabiliza ainda 235 jornalistas presos em processos relacionados com o seu trabalho, muitos sem terem sequer sido acusados. Para o presidente da federação, Younes Mjahed, este “número impressionante é uma recordação séria do preço preciso que jornalistas em todo o mundo pagam pela sua busca pela verdade no interesse público”.

Com 600 mil membros em 150 países, a FIJ é a maior organização de jornalistas do mundo. Desde que iniciou o seu balanço anual, em 1995, foram assassinados 2658 jornalistas. Este ano, o número total de morte é inferior ao de 2019, quando se registaram 49 assassínios. Uma diminuição que “não pode disfarçar o perigo fatal e as ameaças que os jornalistas continuam a enfrentar por fazerem o seu trabalho”, diz o secretário-geral da federação, Anthony Bellanger, citado pelo diário The Guardian.

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