Platibandas do Algarve: uma “caixinha de surpresas” contadas em livro

A arquitectura tradicional vista e analisada com olhares cruzados sobre um elemento patrimonial que é ao mesmo tempo reflexo do traço psicológico do algarvio, “herdeiro mourisco” de uma certa maneira de ser.

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Filipe da Palma
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Como viajar pela história de uma região a partir da platibanda de uma casa algarvia? A proposta surge num livro editado esta semana pela Argumentum (editora especializada em património). Quando percorremos os territórios da cultura, diz Guilherme d’Oliveira Martins no prefácio da obra, o “Algarve é uma caixinha de surpresas”. As imagens - chaminés, açoteias e platibandas -, captadas pelo fotógrafo Filipe da Palma, são contextualizadas por investigadores e académicos nas áreas da história, arquitectura e antropologia.

Através de uma amostra de 167 fotos, impressas no livro Platibandas do Algarve, entra-se no chamado “reino do Algarve” em toda a sua extensão territorial - do litoral à serra, passando pelo barrocal. A este propósito, o historiador Eduardo Horta Correia, no capítulo que assina neste trabalho, lembra que o Algarve, em matéria de independência, ficou-se pelas aparências. “Constitui um pequeno reino sempre associado ao reino de Portugal desde a reconquista cristã no sul da Península Ibérica”, mas esse estatuto de entidade independente foi “mais simbólica do real”. O académico, ao examinar as “composições decorativas [platibandas] moldadas em massa de pedreiro”, a partir de exemplos nas cidades de Tavira e Faro, evoca a figura de Diogo Tavares e Ataíde, “tido hoje como o maior arquitecto do Barroco algarvio - modestamente mestre pedreiro e canteiro”. Porém, nas observações não deixa de fazer um alerta sobre o património da região “sistematicamente destruído ao longo do século XX”.

Já o antropólogo Pedro Prista prefere deter-se nos “significados sociais e humanos vividos” nos diferentes contextos da evolução dos povos. As platibandas, refere, “sem deixar de ser reconhecidas como um acessório engraçado, assinalam na sua ingenuidade um suposto traço da psicologia do algarvio, herdeiro mourisco e por isso alheio às fidelidades profundas que fincavam a norte os apegos telúricos às tradições rústicas”.

Por sua vez, o coordenador científico da publicação, Miguel Reimão Costa, analisa o modo como este elemento da arquitectura clássica contribuiu para a “mudança significativa da paisagem da região”, no espaço urbano e no meio rural.

Guilherme d’Oliveira Martins destaca a singularidade destes elementos arquitectónicos, que não sendo exclusivo da região algarvia, ganham particular significado nas terras do sul. As platibandas, enfatiza, “concorrem em beleza e cor com os desenhos da proa das embarcações que vieram do Levante mediterrânico na sua riqueza multimodal”.

Filipe da Palma fotografa o património algarvio há cerca de duas décadas “Tenho milhares de fotos”, revela, destacando a importância da edição deste livro: “Sofreu vários percalços relacionados com a falta de apoios, mas a determinação do editor Filipe Jorge permitiu a concretização da obra”. Sobre a recolha e levantamento a que tem vindo a desenvolver, comenta: “Não utilizei as platibandas como meio de expressão artística porque elas, por si só, já são peças de arte”. As imagens que recolheu, sublinha, são “usadas como ferramentas para comunicar a riqueza patrimonial que ainda temos, e não valorizamos porque não há percepção”.

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