Tempo para ensinar, tempo para aprender

Em boa verdade, torna-se desafiante cativar os jovens alunos para o estudo da História, uma área do saber em constante desvalorização na sociedade. Entre muitos factores, um dos principais que leva à desvalorização da História é o desconhecimento ou menorização da sua importância.

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Daniel Rocha

Cada vez mais se assiste a um afastamento e desinteresse dos alunos à aprendizagem escolar, essencialmente em disciplinas intituladas (pela sociedade) inúteis profissionalmente, no sentido em que não habilitam directamente o aluno para uma dada profissão, como é o caso da disciplina de História. Por isso, há uma preocupação entre historiadores, professores e pedagogos em repensar os meios de aprendizagem e os instrumentos de ensino da História, de modo a cativar os alunos e a aproximá-los da disciplina.

Em boa verdade, torna-se desafiante cativar os jovens alunos para o estudo da História, uma área do saber em constante desvalorização na sociedade. Entre muitos factores, um dos principais que leva à desvalorização da História é o desconhecimento ou menorização da sua importância. Urge, então, entender a História como uma disciplina que mune os indivíduos com capacidades para compreender e observar a actualidade, para pensar criticamente o futuro, para a construção de uma postura crítica e de uma posição atenta às malhas da persuasão, para a construção de uma consciência política, social, cultural e económica sobre o mundo e o país e, também, para a sua construção enquanto cidadão e indivíduo.

Neste ponto, importa demonstrar, então, ao aluno, enquanto sujeito de aprendizagem e “eu” de construção da sua cidadania e individualidade, a importância de estudar a realidade histórica. Por conseguinte, uma das tarefas iniciais do professor acaba por ser demonstrar a preponderância de conhecer o passado para compreender o presente e melhor planear o futuro, desconstruindo as crenças erradas e fortemente enraizadas sobre a aprendizagem da História, tais como, decorar acontecimentos e decorar datas. Urge combater este conceito que a ela está amarrado (decorar), investindo no verdadeiro objectivo da História: a construção do conhecimento histórico, promovendo a literacia histórica, fomentando um pensamento histórico e proporcionando um pensamento crítico.

Com a História pretende-se, assim, fomentar os alunos a pensar, a relacionar temáticas e conhecimentos, a desenvolver um olhar crítico e analítico e a forjar o seu próprio pensamento, livre de imposições e manipulações. Neste sentido, os professores investem, cada vez mais, em estratégias pedagógicas para fomentar um pensamento histórico. Uma delas é redefinir o espaço da aula, desconstruindo a aula rígida de exposição assente numa óptica de tábua rasa dos alunos, combatendo o ensino clássico e tradicional e criando, em substituição, um espaço mais flexível de partilha, onde o aluno detém um papel activo e participativo. Um dos mecanismos importantes para tal são os debates: debater sobre problemáticas da actualidade com raízes no passado e, deste modo, promover a capacidade de o aluno cruzar informações e investir no seu espírito crítico.

Porém, é preciso tempo para ensinar e tempo para aprender. A verdade é que, com um tempo de aula tão limitado, se torna árduo implementar diferentes estratégias pedagógicas. O professor, por muita capacidade de gestão que procure ter, está numa corrida contra o tempo, enfrentando um longo programa a cumprir, as dificuldades que podem surgir e um exame final que se aproxima para o qual se impõe uma preparação dos alunos.

Reitero algo que parece esquecido e deve ser o foco central no ensino: precisa-se de tempo para aprender. A aprendizagem é um dos processos mais importantes, não deve ser desproporcionalmente acelerada, pois, em oposição a uma aprendizagem fascinante, a aprendizagem acelerada culmina num desinteresse e num afastamento. Importa, assim, investir na aprendizagem com dedicação e potencializar as escolas com as melhores condições para propiciar a aprendizagem dos alunos.

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