Só os salários abaixo de 700 euros deverão escapar aos cortes na TAP

Sitava diz que a transportadora aérea quer cortar nos salários “como se estes fossem um simples salame, de onde se podem retirar fatias sem que isso atinja a subsistência dos trabalhadores”.

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Plano a entregar em Bruxelas implica uma empresa mais pequena do que o actual grupo TAP Nuno Ferreira Santos

O corte geral de 25% nos salários que faz parte do plano de reestruturação da TAP terá excepções que, de acordo com o Sitava — Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (pessoal de terra), só irão abranger os trabalhadores com vencimentos até 700 euros – ligeiramente acima do salário mínimo, actualmente nos 635 euros.

Num comunicado enviado esta manhã, o Sitava afirma que essa informação lhe foi adiantada no âmbito de uma reunião que decorreu na segunda-feira, ao final do dia, com o presidente do conselho de administração da TAP, Miguel Frasquilho, e com o presidente da comissão executiva, Ramiro Sequeira, por videoconferência. O encontro surgiu, diz o Sitava, “no seguimento de um pedido conjunto de todos os sindicatos de terra do grupo TAP”.

“Voltou a falar-se, mais uma vez, na intenção de fazerem cortes nos salários dos trabalhadores como se estes fossem um simples salame, de onde se podem retirar fatias sem que isso atinja a subsistência dos trabalhadores e das suas famílias. Dizem com a maior cara de pau que vão cortar em todos os rendimentos acima de 700 euros. Isto é gente que, claramente, nunca viveu com o salário mínimo ou pouco mais”, diz o comunicado do Sitava. Este será um pequeno universo de trabalhadores do grupo, que no final de 2019 rondava os dez mil. Na mensagem enviada aos trabalhadores no dia 27 de Novembro, a administração tinha dito que, num cenário de cortes salariais transversais, seria garantido “um valor mínimo que assegure a protecção aos salários mais baixos”, sem no entanto quantificar.

No comunicado desta quarta-feira, o Sitava adianta que lhes foi mostrado 13 slides com informação ligada ao plano, de um total de 198 que lhes foi dito existirem. “Quando pedimos mais informação relevante, dizem-nos que é confidencial e que nos entregarão mais alguma se assinarmos um acordo de confidencialidade, acrescentando ainda que não poderemos divulgá-la, nem aos nossos associados”, afirma o Sitava. De seguida, questiona: “Para que raio serve então essa informação se não pode ser utilizada? Será esta a nova forma de sindicalismo livre, o sindicalismo secreto?”

Sobre os acordos de empresa que se preparam para ser suspensos na empresa pública (o Estado já detém 72,5% do capital), o Sitava adianta que não foi dito aos representantes dos trabalhadores o período temporal da medida, nem se a suspensão é total ou parcial. “É bom relembrar”, diz o comunicado, “que quando se faz um acordo são sempre precisas duas partes que, voluntariamente, outorgam esse acordo. Suspendê-lo será sempre um acto prepotente que, a acontecer, terá de ser com intervenção do Governo”.

“Não podemos deixar de assinalar a ironia que seria um Governo do PS apoiado à esquerda a torpedear de forma grosseira acordos de empresa e direitos dos trabalhadores conquistados com muitos sacrifícios e ao longo de muitos anos”, conclui este sindicato, afecto à CGTP.  

O plano de reestruturação, que terá de ser entregue em Bruxelas até esta quinta-feira, dia 10, contempla ainda, conforme já afirmaram os sindicatos, a redução de 2000 trabalhadores efectivos, (750 tripulantes, 500 pilotos e 750 trabalhadores de terra), a que se juntam muitos outros cujos contratos não são renovados.

A redução da estrutura da TAP passa também por uma descida do número de aeronaves, depois de um ciclo de crescimento. A transportadora aérea refere que no final de Setembro tinha 101 aviões, incluindo aqui as 13 aeronaves da Portugália, contra 105 no final do ano passado. Na carta que enviou aos trabalhadores, a administração referiu que o objectivo é chegar às 88 aeronaves no ano que vem, número esse que deverá subir depois para 101 até 2025.

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