Emirados Árabes Unidos dão luz verde à vacina da covid-19 que um milhão de chineses já tomaram

Sem tecnologias revolucionárias nem exigências de frio rigoroso, há uma mão cheia de vacinas desenvolvidas na China contra o novo coronavírus prestes a chegar ao mercado.

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Desde Julho que as vacinas da Sinopharm estão a ser administradas a cidadãos chineses DADO RUVIC/Reuters

Os Emirados Árabes Unidos anunciaram que uma das vacinas desenvolvidas pelo grupo estatal chinês Sinopharm contra a covid-19 que está a ser testada no seu território tem “uma taxa de sucesso de 86%”. Assim, os Emirados autorizaram que a vacina, que já foi administrada a mais de um milhão de cidadãos chineses desde o Verão, fosse registada no país. É o primeiro país que não a China a dar luz verde a esta vacina.

“A vacina do Instituto de Produtos Biológicos de Pequim tem 86% de eficácia contra a infecção”, diz a agência noticiosa dos Emirados Árabes Unidos (EAU), numa notícia em que dá a saber que o Ministério da Saúde anuncia o registo oficial da vacina usada no ensaio clínico #4Humanity, em que participaram 31 mil pessoas. A confirmar-se, é um nível de eficácia que quase alcança os anunciados pelas vacinas ocidentais, da AstraZeneca-Universidade de Oxford (entre 70 e 90%), Moderna (94,5%) e Pfizer-BioNtech (95%).

É ainda uma análise intermédia, diz a agência, que afirma ter sido demonstrado que a vacina chinesa “é 100% eficaz a evitar casos graves e moderados da covid-19” e que não mostrou problemas de segurança. Não são, no entanto, adiantados dados concretos nem datas para a publicação dos resultados.

Esta é apenas uma das várias vacinas que a China tem neste momento em ensaios clínicos, algumas delas prestes a receberem aprovação, embora sem que se saiba muito sobre elas.

Sem tecnologias revolucionárias, nem exigências de serem armazenadas em temperaturas glaciais, apenas os dois a oito graus Celsius dos frigoríficos normais, a indústria farmacêutica chinesa começou cedo a trabalhar e desenvolveu mais de uma dezena de vacinas contra o novo coronavírus. Algumas foram já usadas para vacinar militares e cidadãos chineses que trabalham ou estudam no estrangeiro e várias delas estão a chegar ao fim da fase 3 dos ensaios clínicos.

Muito poucos estudos que permitam avaliar a sua eficácia foram publicados em revistas científicas que possam ser avaliados por todos, mas o Governo chinês promete exportá-las - de acordo com as regras que já usou nas trocas comerciais, por exemplo oferecendo empréstimos para que países da América Latina possam adquirir as vacinas chinesas, assinando acordos com países como o Brasil, os EAU e outros na Ásia, a troco do fornecimento de vacinas em condições excepcionais. No continente africano, diz a Bloomberg, Pequim, fez ofertas de fornecimento prioritário das suas vacinas a uma grande maioria de países.

Aqui ficam algumas pistas sobre as vacinas chinesas mais avançadas.

Sinopharm 

Um milhão de chineses, para além dos participantes nos ensaios clínicos que decorreram nos Emirados Árabes Unidos, Peru, Marrocos, Argentina, Bahrein, Egipto e Jordânia, já tomaram as duas vacinas desenvolvidas por este grupo estatal. A vacina baseia-se em vírus SARS-Cov-2 inactivados, para não fazerem mal, administrados em duas doses, para treinarem as células do sistema imunitário a atacar o inimigo em estado natural. Uma das vacinas poderá ser aprovada na China ainda este mês. A expectativa é que se vendam mais de milhão de doses em 2021 na América Latina e no Médio Oriente.

SinoVac

A fase 3 dos ensaios clínicos desta vacina que se baseia num vírus inactivado, administrado em duas doses, estão na fase final no Brasil. O governador de São Paulo quer começar a vacinar a população já a 25 de Janeiro. Outros ensaios decorrem na Indonésia e na Turquia. Na China, esta vacina poderá ser aprovada já em Dezembro, para ser distribuída na China, no Sudeste Asiático, África e América Latina, além da China. Prevê-se uma produção de 300 milhões de doses em 2021.

CanSino

Esta vacina usa como vector um adenovírus que não se replica no corpo humano, no qual é inserido um segmento do ARN do novo coronavírus, que comanda a produção da proteína da espícula que dá ao vírus o aspecto espinhado. O objectivo é que esta proteína híbrida ensine o sistema imunitário a reconhecer o SARS-Cov-2 e monte defesas contra a infecção. Decorrem ensaios clínicos no México, Paquistão e Rússia. A empresa espera produzir 300 milhões doses em 2021.

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