“Síndrome de Havana” causada por exposição directa a radiação microondas, diz estudo americano

O relatório produzido pela Academia das Ciências americana, a pedido do Departamento de Estado, diz não poder confirmar que houve ataque deliberado e de quem partiu. Mas fala da União Soviética e dos “actores malignos” que “querem provocar o mal”.

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Militares erguem a bandeira norte-americana na embaixada dos EUA em Havana, Agosto de 2015 Reuters

A misteriosa doença que afectou o pessoal diplomático norte-americano em Cuba pode ter sido causada por exposição directa a radiação microondas, segundo o primeiro relatório oficial que tenta explicar os sintomas daquilo a que já se chamou “síndrome de Havana”.

O relatório, produzido pela Academia de Ciências dos EUA a pedido do Departamento de Estado, não atribui qualquer culpa por não ser possível dizer se houve ataque e de quem partiu. Mas diz a dada altura que há mais de 50 anos a União Soviética fez estudos sobre os efeitos dessa energia de radiofrequência. 

A doença afectou o pessoal na embaixada dos EUA em Havana em 2016 e 2017. Alguns funcionários queixaram-se de tonturas, náuseas, dores de cabeça, défice cognitivo e ansiedade. Os EUA acusaram o Governo de Cuba de ter realizado um “ataque sónico” contra a embaixada — o que foi negado por Havana. 

O caso teve lugar dois anos depois de o Presidente Barack Obama ter reaberto a embaixada em Havana, numa decisão de várias visando a reaproximação entre os dois países que estiveram de relações cortadas durante décadas, após a Revolução Cubana. Na sequência dos sintomas, o Presidente Donald Trump mandou reduzir 60% do pessoal na embaixada cubana. Na embaixada do Canadá, onde também houve sintomas, houve também redução de pessoal.

“Alguns pacientes começavam a ouvir um repentino barulho alto (...) acompanhando de dor num ou nos dois ouvidos, ao redor de uma área ampla da cabeça, e, em alguns casos, sensação de pressão ou vibração na cabeça, tonturas, tinido, distúrbios visuais, vertigens e dificuldades cognitivas”, diz o relatório.

Acreditava-se que os sintomas tinham sido causados pela exposição a um sinal acústico fora da gama audível. Os EUA acusaram Cuba de ter realizado um “ataque sónico” contra a sua embaixada, levantando a possibilidade de o país ter uma “arma sónica secreta" com que atacou os diplomatas americanos.

Em Janeiro, um estudo científico das universidades de Berkeley (Califórnia) e Lincoln (Reino Unido) concluiu, depois de análise às gravações de áudio feitas pelos diplomatas (e divulgadas pela Associated Press), que o som corresponde ao canto dos grilos. A investigação sublinhava que não podia afastar ou confirmar a hipótese de ataque, garantia apenas que os sons gravados são emitidos por insectos.

O relatório agora divulgado pela Academia das Ciências dos EUA não atribui uma origem a estes sons. Mas diz que já existia “uma pesquisa significativa da União Soviética sobre os efeitos da exposição pulsada, em vez de contínua [a esse tipo de radiação]”. 

“Apesar de não estarmos em posição de comentar como surgiram estes casos — ou de qual a fonte da exposição a essa energia de radiofrequência directa e pulsada — a mera hipótese de este cenário existir levanta preocupações quanto à existência de um mundo onde existem actores malignos que não se inibem de usar estas novas ferramentas para provocar o mal, como se o Governo dos EUA não tivesse as mãos já cheias de problemas que ocorrem por causas naturais”, escrevem os cientistas no relatório.

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