Morreu Tabaré Vázquez, o oncologista que levou a esquerda ao poder no Uruguai

Lutou toda a vida contra o consumo de tabaco, mas morreu de cancro no pulmão, como os pais e a irmã. Após um primeiro mandato bem sucedido, fez um segundo em ambiente de crise económica que deu a vitória nas presidenciais ao centro-direita.

Foto
Tabaré Vázquez Raul Martinez/EPA

O oncologista que fez toda a vida campanha contra o tabaco e levou a esquerda ao poder no Uruguai, Tabaré Vázquez, morreu neste domingo, aos 80 anos, vítima de cancro do pulmão.

Foi Presidente duas vezes: 2005-2010 e 2015-2020; nas eleições de Novembro do ano passado, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional (centro-direita) venceu as presidenciais e tomou posse em Março deste ano.

“É com profundo pesar que anunciamos a morte do nosso querido pai”, escreveram os seus filhos Álvaro, Javier e Ignacio Vázquez. O antigo presidente morreu “enquanto descansava, em sua casa, rodeado de familiares e amigos”, acrescentou o filho Álvaro, através do Twitter. O funeral será privado devido à pandemia de covid-19.

Tabaré Vázquez fica na história do Uruguai como o político que conduziu a esquerda ao poder. Em 1990 foi eleito presidente da câmara de Montevidéu e, 15 anos depois, à Presidência da República, conseguindo a Frente Ampla - a grande coligação criada em 1971 com a união de forças de esquerda, desde a democracia cristã até ao movimento guerrilheiro MLN-Tupamaros (de José Mujica, que foi Presidente de 2010-2015) - derrotar os dois partidos de centro-direita que dominaram o país desde o regresso da democracia, em 1985.

Nascido numa família da classe operária, trabalhou como carpinteiro, escriturário e empregado de mesa para pagar a faculdade, formando-se em Medicina e dando início a uma campanha contra o tabaco depois de, entre 1962 e 1968, a irmã, a mãe e o pai terem morrido de cancro no pulmão. 

Tornou-se também empresário e fechou o primeiro mandato com mais de 70% de taxa de aprovação. O segundo, porém, foi marcado pela estagnação económica e as presidenciais foram ganhas pela oposição.

Deixa um legado de políticas sociais mas, devido à sua formação católica, foi contra a legalização do aborto, do casamento de homossexuais ou da produção, venda e consumo de marijuana, três leis aprovadas por Mujica. Acusaram-no também de não ter actuado como deveria perante os crimes da ditadura uruguaia (1973-85).

Sugerir correcção
Comentar