Vitória, a ilha que Portugal desconhece

Com praias urbanas belíssimas, uma gastronomia que une o melhor da cultura dos povos tradicionais indígenas e afrodescendentes e portuguesa e uma geografia que não fica atrás dos patrimónios naturais cariocas, Vitória é uma ilha que Portugal ainda desconhece.

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Erick Coser

Sou nascido e fui embalado numa linda ilha. No Brasil, não são raros os ilhéus, aqueles que vivem numa “porção de terra cercada de água por todos os lados”, como nos ensinaram no colégio os professores de Geografia. O ilhéu parece sempre buscar como referência o mar, em todo e qualquer lugar onde vá. Acaba tendo que conviver mais de perto com seus concidadãos, num espaço mais exíguo, porém concentrado em cultura e troca. Vitória, a capital do estado do Espírito Santo, é uma das três capitais estaduais brasileiras situadas numa ilha. Divide o privilégio de localização com São Luís, capital do Maranhão, e Florianópolis, a pérola de Santa Catarina.

Encravada na região de colinas verdes banhadas pelo Atlântico, Vitória situa-se na chamada Serra do Mar. Capital de um dos estados menos conhecidos da região sudeste, viu-se durante décadas ofuscada pelos cartões postais de suas vizinhas internacionalmente lembradas: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Salvador. No entanto, Vitória é uma ilha cheia de riquezas secretas, potencial turístico ainda pouco explorado e um talento para o progresso pela diversidade cultural que a engendrou. É uma das cidades mais antigas do Brasil, tendo sido fundada em 1551, no auge da colonização portuguesa e do regime das sesmarias.

Banhada por uma deslumbrante baía capaz de causar arrepios a todos os turistas, a “ilha do mel” coloca-se em posição estratégica no litoral brasileiro, possuindo um vultuoso fluxo comercial, derivado sobretudo das actividades que irradiam do parque industrial e portuário. Com um centro histórico que recorda as ruas e vielas da capital da sua então metrópole, Lisboa, Vitória tem muita história contada nos edifícios culturais, os quais narram a instalação dos primeiros assentamentos da ilha. Com a vinda da Família Real portuguesa em 1808 para o Rio de Janeiro, a então nova capital do reino vê-se robusta na figura de cidade maravilhosa, em contrapartida permanece esquecida Vitória, a capital da província oculta.

Com praias urbanas belíssimas, uma gastronomia que une o melhor da cultura dos povos tradicionais indígenas e afrodescendentes e portuguesa e uma geografia que não fica atrás dos patrimónios naturais cariocas, Vitória é uma ilha que Portugal ainda desconhece. Repleta de sensações que deixariam todos os portugueses a sentirem-se um pouco turistas e um pouco residentes, a chamada “cidade presépio” brilha também à noite, como um grande e encantador ornamento de Natal. As luzes de Vitória transformam-na numa cidade, outrossim, destinada ao turismo nocturno, para todos os rostos e todos os gostos. Cidade-irmã de Cascais, a capital capixaba lembra os traços veraneios da badalada irmã portuguesa.

Passear pela Curva da Jurema, comer uma moqueca capixaba, feita na tradicional panela de barro das artesãs de Goiabeiras, sentar nalgum dos restaurantes do Triângulo, ou se acabar na mariscada da Ilha das Caieiras e beber uma imperial no entardecer de Camburi, parece ser o roteiro perfeito para alguém que quer viver momentos inesquecíveis como um verdadeiro ilhéu. De braços abertos para o Atlântico que separa o Brasil de Portugal, Vitória precisa ser uma paragem obrigatória nos roteiros portugueses em visita ao país-irmão. A “cidade sol” consegue a um só tempo reunir: belezas naturais que não a desabonam frente ao Rio de Janeiro, temperos páreos aos da comida baiana e mineira e um desenvolvimento urbano vertical à moda de São Paulo. Podada para ser uma das mais belas flores do Brasil, Vitória espera um dia que seu posto seja definitivamente valorizado no jardim das rosas dos ventos, nos mapas brasileiro e mundial. Vitória é uma ilha que encanta o último e o primeiro, mas que ainda merece um olhar detido e verdadeiro de Portugal.

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