Novos distúrbios em Paris durante protesto contra a violência policial

Lei de “segurança global” e agressão a produtor musical negro voltaram a trazer milhares de franceses para as ruas. Em Paris, a manifestação ficou marcada por actos de violência.

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Pelo segundo fim-de-semana consecutivo, os protestos em Paris contra a violência policial e a nova lei de segurança em França degeneraram em violência. Manifestantes encapuzados, alegadamente ligados a colectivos anarquistas, incendiaram automóveis, partiram montras de lojas e disparam petardos contra agentes da polícia no local.

As autoridades apontam um dedo a um grupo de 500 indivíduos que se terá infiltrado na manifestação. “Todos odeiam a polícia” foi uma das frases mais repetidas durante os distúrbios. Antes da violência, milhares de pessoas marchavam pacificamente pelas ruas de Paris, empunhando cartazes e bandeiras com frases como “França, terra dos direitos da polícia” e “Removam a lei de segurança”.

A polícia de choque reagiu aos actos de violência com o arremesso de granadas de gás lacrimogéneo e, ao final da tarde de sábado, tinham sido realizadas pelo menos 30 detenções na capital francesa. Para além da manifestação em Paris, houve marchas este sábado em quase 100 outras cidades do país, mas aí sem registo de incidentes graves.

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A violência policial em Paris motivou os protestos LUSA/Mohammed Badra

Os protestos em França duram desde a aprovação, a 24 de Novembro, de uma controversa proposta de lei de “segurança global” que reforça os poderes da polícia. O projecto legislativo, que ainda terá de ser debatido no Senado em Janeiro, estabelece regras para o uso de drones pela polícia e alarga o número de situações em que as autoridades podem aceder armadas a estabelecimentos abertos ao público.

Macron anuncia cedências

Uma das alíneas mais polémicas do diploma previa a punição da divulgação de imagens que identifiquem agentes em operações policiais, de modo a evitar fenómenos de perseguição e ameaça através das redes sociais. O artigo 24, que criminalizaria o acto com uma pena com até um ano de prisão e multa até 45 mil euros, gerou no entanto uma onda de condenação generalizada ao pacote legislativo, sobretudo da parte de organizações cívicas preocupadas com o que entendem ser uma limitação às liberdades de imprensa e de expressão.

O partido do Presidente francês Emmanuel Macron acabou por recuar nos planos depois as criticas à nova lei intensificarem-se após quatro agentes da polícia serem detidos e acusados, no final de Novembro, de espancarem e abusarem racialmente de um produtor musical negro. A vítima, Michel Zecler, sofreu ferimentos consideráveis após ser abordado pela polícia por alegadamente não usar máscara na via pública, em infracção das regras de contenção da covid-19. As imagens do incidente, que ocorreu já dentro do estúdio de música de Zecler, foram amplamente divulgadas. Para os detractores da proposta legislativa no centro do debate público, casos como este seriam dificilmente conhecidos, com prejuízo para as eventuais vítimas e um sentimento de impunidade para os agentes policiais. “Tive a sorte de ter um vídeo que me protegeu”, comentou na altura o produtor musical.

O diploma deverá agora ser reformulado. Na sexta-feira, e em entrevista ao site Brut, Macron admitiu que “há polícias que são violentos” e que “têm de ser punidos”. O Presidente francês anunciou ainda a criação de um portal online para denúncias de abusos policiais, bem como a utilização mais alargada de câmaras vídeo pelas patrulhas policiais. No entanto, o aparente volte-face não evitou mais um fim-de-semana de protestos num país que, há largas décadas, debate acaloradamente o problema da violência policial.

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