Sargento da GNR compara líder do assalto de Tancos a uma vaca: “Enquanto tiverem leite há que insistir”

Sargento da GNR Lima Santos diz nunca ter suspeitado de que João Paulino havia assaltado Tancos e nega ter prometido impunidade ao ex-fuzileiro.

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João Paulino foi o visado das declarações do sargento da GNR hoje no tribunal de santarém Daniel Rocha

Um dos militares arguidos no processo de Tancos, o sargento do GNR Lima Santos, comparou o líder do assalto aos paióis a uma vaca esta quinta-feira, no Tribunal de Santarém.

Tal como os restantes militares que se sentam no banco dos réus, também Lima Santos nega algum dia ter prometido ao ex-fuzileiro João Paulino, que idealizou e liderou o furto, que ficaria impune se entregasse o armamento roubado. “É falso, totalmente falso”, repetiu o sargento, admitindo que ele e dois colegas da GNR andaram cerca de três meses em conversações com João Paulino para que lhes contasse onde estava escondido o material.

Porém, os militares afiançam que nunca desconfiaram estarem na presença do próprio ladrão. Dizem que Paulino sempre lhes escondeu esse facto, fazendo-se passar por um mero informador que conhecia os assaltantes. Uma versão dos acontecimentos que esbarra numa questão à qual Lima Santos não conseguiu responder cabalmente, e que foi verbalizada pelo juiz que dirige o julgamento: o que tinha então o líder do assalto a ganhar em revelar a localização das armas, que deixou num terreno da Chamusca para que os militares o encontrassem?

Foi nesta altura que o sargento da GNR tentou explicar a lógica de funcionamento das relações entre os agentes dos órgãos de polícia criminal e aqueles que se dispõem a passar-lhes informações: “A ideia de que o informador tem sempre de ganhar alguma coisa em troca da informação é um mito. Os informadores são como as vacas: enquanto tiverem leite há que insistir”. E não terá sido fácil, pelo que contou, convencer João Paulino a contar onde estava escondido o material roubado. Isso mesmo já relatou o próprio ex-fuzileiro em tribunal, mas com duas nuances que fazem toda a diferença: que acabou por revelar a certa altura aos militares ter estado envolvido no roubo por um lado, e, por outro, que estes lhe garantiram efectivamente que nem ele nem os seus cúmplices seriam presos se devolvessem o armamento. É essa de resto a tese do Ministério Público.

Lima Santos confessa-se hoje arrependido: “Se calhar mais valia o material ter desaparecido no fundo de uma barragem, assim não estava aqui a ser julgado em tribunal”, observou, numa referência à intenção manifestada em dado momento por João Paulino de afogar as munições e explosivos que tinha levado dos paióis, para não ser apanhado. Antes de o ter transportado para a Chamusca, o material esteve enterrado num terreno de uma das suas avós.

A 18 de Outubro de 2017 os militares chamaram a si os louros da descoberta do material bélico na Chamusca, omitindo à opinião pública a existência do “informador” que lhes tinha revelado a sua localização. Segundo os próprios, fizeram-no para proteger João Paulino, cujo envolvimento no assalto continuariam a ignorar. “Eu sei que o Código Penal não prevê a existência de informadores. Mas sempre existiram”, prosseguiu o sargento.

Poucas horas antes do achamento do armamento Lima Santos jantou com colegas, incluindo o sargento da Polícia Judiciária Militar Lage de Carvalho, no McDonalds de Torres Novas. Paulino havia de lhes entregar um desenho muito tosco, com setas indicando-lhes como chegarem ao local onde lhes tinha deixado o material, no leito de um rio que estava praticamente seco. “Lage de Carvalho teve de comer um happy meal. Por causa dos bonecos para o meu filho”, recordou o arguido.

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