Abrigado por madeira e vidro, o mercado de Braga regressa mais coeso, com aposta na restauração

Dotado de uma cobertura para acabar com as “fracturas” que existiam na praça central e de uma nova ala de alimentação, o mercado municipal dos anos 50 é reinaugurado no sábado. A conclusão da obra, cujo custo subiu dos 4,5 para os seis milhões de euros, acontece quase um ano depois da data inicialmente prevista.

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Nelson Garrido
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Em redor do mercado municipal de Braga, é notório o ambiente de fim de obra. Junto à fachada principal do edifício inaugurado em 1956, uma dúzia de operários aprimora o espaço pedonal. No interior, outros trabalhadores organizam os espaços destinados aos produtos dos agricultores. Mas há algo de diferente na praça central: já não é o espaço a céu aberto onde os comerciantes se aglomeravam com os seus toldes, mas uma unidade com dezenas de bancas em torno de uma antiga fonte, sob uma cobertura de vidro e de madeira.

“O primeiro objectivo foi unificar tudo”, indica Rui Araújo, um dos arquitectos do projecto de requalificação do mercado, que vai reabrir na manhã de sábado. “O facto de cada comerciante ter o seu toldo e a sua estrutura, além de fracturar o espaço, ocupava muito mais área. A cobertura era indispensável”, realça, durante uma visita ao espaço, promovida pela Câmara Municipal de Braga.

Vencedor do concurso de ideias lançado em 2014 pela autarquia, juntamente com Luís Santos, Rui Araújo salienta que o vidro duplo protege comerciantes e clientes da chuva e do sol, garantindo uma “menor variação de temperatura”, e que a madeira valoriza as “relações pessoais”. “Usamos este material para evitar que o mercado se parecesse com mais um pavilhão industrial”, explica o responsável do gabinete de arquitectura APTO.

O espaço central destina-se aos legumes, à fruta e às flores. A venda de carne está reservada para os 15 talhos da ala sul, enquanto a ala oeste alberga o peixe. A venda desses produtos, os designados frescos, ocupa 80% do espaço do mercado, estima a vereadora com o pelouro dos Equipamentos Municipais, Olga Pereira. O restante espaço é ocupado por áreas técnicas e pela loja do mercado, destinada a eventos de mostra gastronómica e à promoção dos produtos dos comerciantes.

Mas a principal novidade é a ala de alimentação, com um espaço para 10 ou 15 quiosques no piso térreo, que se pretende equiparar às “praças de alimentação mais modernas”, e para um “restaurante de grande dimensão, com cozinha autónoma” no piso superior, diz Olga Pereira. A autarquia recebeu três propostas pela concessão, que tem um valor base mensal de três mil euros, devendo-se a conhecer a vencedora “dentro de 10 dias”, informa a vereadora. A entidade responsável pela alimentação vai ter de comprar parte dos produtos no mercado, bem como de limpar a dinamizar o local, acrescenta.

A versão antiga do mercado contava com cerca de 300 operadores, entre comerciantes fixos e agricultores, estando garantida a permanência de mais de 90% das pessoas, refere ainda a vereadora. Numa hasta pública realizada na segunda-feira, a Câmara de Braga adjudicou seis lojas e cinco bancas, restando-lhe encontrar comerciantes para dois talhos ainda vazios.

Uma das comerciantes que vai permanecer no mercado é Ana Maria Marques. Padeira naquele espaço há 38 anos, está desagradada com o “horário muito rigoroso” do regulamento, aprovado pelo executivo municipal em Março: 7h às 17h, à semana, e 7h às 14h, ao sábado. A obrigação de estar lá todos os dias, sob pena de multa, impede-a de vender nas feiras semanas da região onde se deslocava, acrescenta. Quanto ao aumento das rendas, outro assunto polémico, não considera elevado, no seu caso: passa dos 35 para os 60 euros mensais.

Adiamentos e derrapagens

O mercado municipal está prestes a reabrir depois de um processo que se estendeu por seis anos desde a selecção do projecto de arquitectura. A Câmara Municipal lançou a obra a concurso em 2017, com custos de 4,5 milhões de euros para a reabilitação do edifício e de 1,1 milhões de euros para os arranjos exteriores. A intervenção no edifício, porém, só começou em Março de 2019, depois de uma construtora concorrente ter impugnado o concurso, num processo que o Tribunal de Contas resolveu a favor da autarquia em Outubro de 2018. A conclusão da obra, inicialmente prevista para Janeiro de 2020, foi adiada inicialmente para Junho e depois para Dezembro. Pelo meio, o executivo municipal liderado por Ricardo Rio aprovou quatro conjuntos de trabalhos a mais, de 1,5 milhões de euros, que elevaram o valor da obra para os seis milhões.

Os gastos adicionais, adianta Olga Pereira, destinaram-se à substituição das telhas, ao reforço da estrutura de suporte à cobertura e também à melhoria da zona de frio. “Criou-se uma área de frio maior do que a inicialmente prevista, mas que achamos indispensável”, exemplifica. A necessidade desses trabalhos a mais só foi conhecida durante a obra, acrescenta. “Um projecto de reabilitação não é a mesma coisa que uma construção nova. Há circunstâncias que só se percebem no decurso de uma obra”, justifica.

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