Subindo aquela colina com Old Jerusalem

High high up that hill é o single de apresentação do novo álbum de Old Jerusalem, Certain Rivers. Gravado com Peter Broderick, mostra-nos Francisco Silva, guitarra acústica e voz maturada de melancolia, a lançar o seu olhar para a infância como refúgio salvador e semente de perdição. Revelamos aqui o vídeo em primeira mão.

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Old Jerusalem editará em Fevereiro o oitavo álbum de uma carreira que já conta duas décadas DR

“As canções são evidentemente minhas. Nos primeiros discos seriam um pouco mais ingénuas do que nas mais recentes, mas há um fio condutor. Old Jerusalem tem um carácter bem definido, por mais colaborações que surjam”. Assim dizia Francisco Silva ao Ípsilon quando da edição de A Rose is a Rose is a Rose, álbum de 2016 do músico portuense que assina Old Jerusalem. Essa é uma verdade que fomos testemunhando ao longo de uma carreira de duas décadas que prosseguirá em Fevereiro de 2021 com Certain Rivers, o álbum que é antecipado com o single e vídeo de High high up that hill, gravada em colaboração com o americano Peter Broderick e que aqui revelamos em primeira mão.

Surgindo depois do despojado Chapels, álbum de canções captadas quase no momento da criação (no sentido em que foram registadas sempre que possível ao primeiro take), e álbum que era, por sua vez, sucessor desse A Rose is a Rose is a Rose em que a sua música surgiu enriquecida como nunca de instrumentação e orquestrações (a direcção musical foi de Filipe Melo), Certain Rivers, a julgar pela canção que o anuncia, mantém as canções de Francisco Silva no seu território de sempre: é a voz de um poeta, com guitarra acústica nas mãos e voz maturada de melancolia, a retratar ou a questionar a vida que passa, quer através de curtos episódios reveladores, quer através de parábolas ou reflexões em forma de conto cantado.

Old Jerusalem, nome resgatado a uma canção dos Palace Music de Bonnie Prince Billy, revelou-se-nos no início da década passada, em 2002, num EP partilhado com os Alla Polaca e editado pela Bor Land, editora sediada no Porto, à época fulcral no cenário independente português. Os álbuns que se seguiram, como April (2003) e Twice the Humbling Sun (2005), confirmaram Francisco Silva como um dos nossos mais inspirados autores de canções.

O single de apresentação daquele que será o oitavo álbum da sua discografia, Certain Rivers, mostra-o prosseguindo caminho, desta vez acompanhado pelo americano Peter Broderick (autor a solo e colaborador de Efterklang, M. Ward ou Nils Frahm, entre outros). É uma canção curta e delicada, com uma imensidão dentro. A infância como refúgio e quimera (“no time was lost/ nor was it gained/ time flowed in ebbing swathes of pride and shame”), espaço onde o futuro se tece sem que disso demos conta (But even then/ beneath it all/ you hinted at what would be the seeds of your downfall). Muito adequada, portanto, para lançar um novo álbum que apresenta em epígrafe o seguinte verso de Czeslaw Miloz, poeta e romancista polaco naturalizado norte-americano, Nobel da Literatura em 1980: “When we hurt we return to the banks of certain rivers”.

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