Parceiro de coligação de Netanyahu ameaça apoiar moção de censura e derrubar Governo

Se o partido do ministro da Defesa cumprir a ameaça, fará cair o Governo que integra e levará Israel de novo a eleições. Mas Gantz oferece ao primeiro-ministro uma solução para evitar esse desfecho.

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Netanyahu tem conseguido permanecer no poder mas enfrenta uma onda de contestação inédita Reuters

O primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, pediu ao parceiro de coligação para votar contra a moção de censura ao Governo que é apresentada na quarta-feira no Parlamento. Mas Benny Gantz, ministro da Defesa, disse que o seu partido Azul e Branco votará a favor, o que fará cair o Governo e obrigará Israel a ir de novo a votos. 

Gantz responsabiliza Netanyahu pela sua decisão, acusando-o de “irresponsabilidade” ao “arrastar” as discussões sobre o próximo Orçamento, que tem de estar aprovado até 23 de Dezembro.

“Israel não precisa de eleições agora, precisa de unidade”, escreveu Netanyahu no Twitter, afirmando que o seu partido, o Likud, votará contra a moção, e pedindo a Gantz para “fazer o mesmo”.

Mas Gantz, que deveria alternar a chefia do Governo com Netanyahu (a quem coube cumprir o primeiro turno no acordo de coligação), considerou o comportamento do Governo “repugnante”. Acusou Netanyahu de ter mentido ao público quando concordou com uma coligação de unidade nacional entre o Likud e o Azul e Branco, e quando concordou que lhe passaria a chefia do Governo em 2021.  

“Entrei neste governo com o coração apertado mas com todo o coração”, disse Gantz num discurso em prime time. “Netanyahu prometeu unidade, disse que não haveria truques baixos, mas não cumpriu a promessa e quem paga é o povo”, disse. “Ele não me mentiu a mim, mentiu ao público”. 

O ministro diz que foi Netanyahu, ao arrastar o debate sobre o orçamento, no que Gantz descreve como “ataque terrorista”, quem “decidiu romper o Governo” e levar o país “de volta a eleições”. O acordo de coligação alcançado por ambos em Maio, depois de 17 meses de indefinição política em Israel, determina que o orçamento de 2020 e 2021 seja aprovado de uma vez, assim como define que Gantz substituirá Netanyahu como primeiro-ministro em Novembro do próximo ano.

A moção de censura foi apresentada pelo líder da oposição, Yair Lapid, com o argumento de que o primeiro-ministro deve demitir-se para enfrentar o julgamento por acusações de corrupção, a juntar ao seu fracasso na luta contra a covid-19 e à crise económica em que mergulhou Israel.

Os votos do partido de Gantz serão suficientes para fazer aprovar a moção, que conta já com o apoio de dois pequenos partidos da oposição, mas o Governo não cai no imediato. Segue-se um processo em várias fases, que se deve prolongar por semanas ou mais até que o resultado se torne oficial e sejam convocadas novas eleições, explica o jornal Times of Israel.

Na prática, se o orçamento não for aprovado até dia 23 o resultado é o mesmo que a aprovação de uma moção de censura implica – a queda do Governo. O que Gantz está a dizer é que para isso prefere ser ele a derrubá-lo, ao mesmo tempo que deixa uma porta aberta a Netanyahu para impedir este desfecho. Porque apesar da dureza do discurso, oferece uma saída ao ainda parceiro de coligação: se Netanyahu avançar para fazer aprovar de imediato o orçamento, os deputados do Azul e Branco rejeitam a moção.

“Farei tudo o que puder para que o país tenha um orçamento e eu possa continuar a servi-lo”, disse Gantz.

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