Sergio Moro contratado por empresa responsável por recuperação judicial da Odebrecht

Contratação do ex-juiz e antigo ministro de Jair Bolsonaro, que conhece ao detalhe a operação Lava-Jato e teve acesso a informação sigilosa enquanto esteve no Governo brasileiro, gerou polémica e críticas de falta idoneidade. Sergio Moro nega quaisquer conflitos de interesse.

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Sergio Moro abandonou o Governo brasileiro em Abril, acusando Jair Bolsonaro de interferência na Polícia Federal ADRIANO MACHADO/Reuters

O ex-juiz da operação Lava-Jato e antigo ministro da Justiça do Brasil Sergio Moro foi contratado para um cargo de direcção da consultora norte-americana Alvarez & Marsal (A&M), responsável pela recuperação judicial do Grupo Odebrecht.

Num comunicado divulgado nesta segunda-feira, a empresa frisou que Moro será sócio-director da área de Disputas e Investigações.

“A contratação de Moro está alinhada com o compromisso estratégico da A&M em desenvolver soluções para as complexas questões de disputas e investigações, oferecendo aos clientes da consultoria e os seus próprios consultores a ‘expertise’ [experiência] de um ex-funcionário do Governo brasileiro”, diz a consultoria.

“Moro é especialista em liderar investigações anticorrupção complexas e de alto perfil, crimes de colarinho branco [crime corporativo], branqueamento de dinheiro e crime organizado, bem como aconselhar clientes sobre estratégia e conformidade regulatória proactiva”, acrescentou a empresa.

A contratação do ex-juiz gerou polémica e críticas sobre conflito de interesses já que Moro conhece detalhes sigilosos da maior operação anticorrupção em curso no sistema judicial do país, a Lava-Jato, que envolve a Odebrecht e outras empresas, e também teve acesso a informações sigilosas do Governo.

A consultoria Alvarez & Marsal alegou que a contratação dele reforça a sua equipa, que também é formada por ex-funcionários públicos do Governo dos Estados Unidos.

Moro, por sua vez, usou as redes sociais para negar conflito de interesses.

“Ingresso nos quadros da renomada empresa de consultoria internacional Alvarez&Marsal para ajudar as empresas a fazer a coisa certa, com políticas de integridade e anticorrupção. Não é advocacia, nem actuarei em casos de potencial conflito de interesses”, escreveu o ex-juiz ao comentar sua contratação na rede social Twitter.

Antes das eleições de 2018, Moro era muito popular entre os conservadores, o que motivou um convite para ocupar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil durante o Governo do Presidente, Jair Bolsonaro.

Em Abril passado, Moro pediu a demissão, alegando que houve uma tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal e rompeu com o Presidente brasileiro.

A operação Lava-Jato, iniciada em 2014, desvendou um vasto esquema de corrupção envolvendo a petrolífera Petrobras e outros órgãos públicos brasileiros, que levou à prisão de empresários, ex-funcionários públicos e políticos.

As investigações não se limitaram ao Brasil e espalharam-se por uma dezena de outros países da América Latina e de África, cujas autoridades ainda investigam o pagamento de subornos.

No entanto, os promotores da Lava-Jato, cujo centro de operações fica na cidade brasileira de Curitiba, no Sul do país, vivem desde o ano passado o seu momento mais difícil, cercados de críticas internas e externas pela suposta falta de transparência e parcialidade nas investigações.

Moro e membros do grupo de trabalho da Lava-Jato estão envolvidos num escândalo conhecido como “Vaza-Jato”, que começou em Junho do ano passado, quando o site de investigação The Intercept Brasil e outros media parceiros começaram a divulgar reportagens que colocam em causa a imparcialidade da maior operação anticorrupção do país.

Baseadas em informações obtidas de uma fonte não identificada, estas reportagens apontam que Moro terá orientado os procuradores da Lava-Jato, indicando linhas de investigação e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância, actos antiéticos e ilegais.

Moro e os procuradores da Lava-Jato, por seu turno, sempre negaram terem cometido irregularidades e fazem críticas às reportagens publicadas, afirmando que são sensacionalistas e usam conversas que podem ter sido adulteradas e foram obtidas através de crime cibernético, embora nunca tenham contestado judicialmente nem apontado provas de adulteração ou fraude nas informações publicadas pelos jornalistas brasileiros.

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