“Calúnias!”, diz Sarkozy na primeira vez que se dirige ao tribunal

Processo contra o antigo Presidente, acusado de ter corrompido um juiz para ter informações sobre outro processo, recomeçou apesar dos pedidos de adiamento.

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Recomeçou esta segunda-feira o processo contra o antigo Presidente francês, Nicolas Sarkozy BENOIT TESSIER/Reuters

O antigo Presidente francês Nicolas Sarkozy, o primeiro ex-chefe de Estado a comparecer em tribunal na época moderna, queixou-se de ser objecto de uma campanha e rejeitou as acusações de corrupção e tráfico de influência na primeira sessão do seu julgamento.

“Não aceito nenhuma das calúnias que me têm sido dirigidas nos últimos seis anos”, disse Sarkozy, que ocupou o cargo entre 2007 e 2012, altura em que ao não se conseguir reeleger perdeu ainda a imunidade, o que levou a que fossem abertas uma série de investigações. “Não tenho intenção de ser repreendido por coisas que não cometi”, declarou ainda.

Embora não seja o primeiro ex-Presidente acusado de corrupção, Sarkozy, de 65 anos, foi o primeiro a estar num tribunal: Jacques Chirac, em 2011, não chegou a apresentar-se no tribunal por questões de saúde (foi condenado a dois anos de prisão, com pena suspensa, por desvio de fundos públicos, abuso de confiança e criação de empregos fictícios na Câmara de Paris nos anos 1990).

A primeira sessão do julgamento de Sarkozy aconteceu na semana passada, mas os advogados de um dos envolvidos, o juiz Gilbert Azibert, tentaram adiar o processo, alegando razões de saúde do juiz de 73 anos, que levariam a um risco para este em tempos de pandemia. O pedido foi recusado depois de uma avaliação de uma equipa médica nomeada pelo tribunal e o processo foi assim foi retomado esta segunda-feira. 

Este é um de três processos em que Sarkozy vai responder em tribunal, neste caso, por ter oferecido ao juiz Gilbert Azibert um cargo no Mónaco a troco de informações sobre uma investigação judicial a uma suspeita de financiamento ilegal da sua campanha (vitoriosa) em 2007, envolvendo a herdeira da gigante de cosmética L’Oréal, Liliane Bettencourt. Sarkozy foi, em 2013, retirado da lista de suspeitos do chamado “caso Bettencourt”, em que se suspeitava de abuso de confiança, e não chegou a ir a tribunal.

A oferta de um cargo no Mónaco a Azibert – e a sua retirada – foram registadas em escutas de conversas de um telemóvel adquirido por Sarkozy mas registado sob um nome fictício. Essas escutas foram feitas no âmbito de outro caso, relativo às suspeitas de que Sarkozy tinha recebido dinheiro do líder da Líbia, Muammar Khadafi, para financiar a campanha de 2007.

O Ministério Público alega que o ex-Presidente só retirou a oferta a Azibert porque percebeu que poderia estar a ser escutado. 

Neste caso, Sarkozy arrisca uma pena de até dez anos de prisão e uma pena de um milhão de euros.

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