Foi para isto que lutaram pelo congresso?

O PCP não consegue acrescentar qualquer coisa que não pareça que poderia perfeitamente ter sido ouvida no XX Congresso em vez de no XXI?

Viremos a página de que seria errado impedir, nas actuais circunstâncias, que um partido pudesse efectuar um dos actos políticos a que atribui mais importância, quando a Constituição não o permite. Escapemos ao cansaço que tem sido transformar qualquer evento político, muito especialmente os de esquerda, num momento de polémica nacional que quase nos leva a crer que o destino da pandemia está dependente desses momentos. Aceitemos que o exemplo que o PCP dá, num momento em que a maior parte dos portugueses está confinada às suas casas, não é muito edificante e revela alguma falta de sintonia com o sentimento geral da população. Aqui chegados, temos um congresso e, pelo menos visto de fora, até agora, não temos grande coisa.

É sabido que o PCP não é um partido como os outros, o que faz com que a grelha de análise aplicada à leitura de congressos de outras forças partidárias seja de difícil utilização para as reuniões magnas dos comunistas. Muitas das medidas estão decididas previamente e não há nada do picante de podermos ver facções, protagonistas, ideias em disputa.

Tudo isto é verdade, mas também é verdade que este não é um momento qualquer. Não é no panorama político, em que a frente de esquerda parece estar em total desagregação e em que o PCP surge, por via orçamental, como sustentáculo do actual Governo socialista. Sim, o partido recapitulou os seus feitos, mas não tem nada mais para dizer além da habitual ladainha de ser “a espinha atravessada na garganta do capital”, especialmente quando à direita há sinais de uma via populista que parece crescer?

E não é certamente um momento normal quando o país vive uma das suas maiores crises de saúde pública que pode preceder uma gigantesca crise económica. Será que perante o inédito o PCP não consegue acrescentar qualquer coisa que não pareça que poderia perfeitamente ter sido ouvida no XX Congresso em vez de no XXI?

É curto, muito pouco, especialmente quando o PCP sabe que, por causa da polémica, o congresso está em todos os telejornais nas televisões dos portugueses fechados em casa. A excepcionalidade do PCP não o devia levar a desprezar um momento em que poderia amplificar a sua mensagem, se lhe acrescentasse algum presente e se se abrisse a algum futuro. Que a novidade seja o ter finalmente deixado cair a Coreia do Norte é só mais uma prova do seu arcaísmo e de como um congresso pelo qual lutou tanto tem tão pouco para mostrar ao país.

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