Deputados do Irão querem fim das inspecções nucleares em resposta à morte de cientista

Parlamento critica “ilusão” de alguns dirigentes iranianos, que acreditaram que negociar com os países ocidentais fará com que estes vejam o Irão como um país “normal”. Isso, dizem, só fortaleceu os inimigos da República Islâmica.

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O funeral do físico iraniano assassinado na sexta-feira realiza-se este domingo em Qom EPA

O Parlamento do Irão, dominado por conservadores, defende o fim das inspecções às instalações do programa nuclear do país em resposta ao assassínio do físico nuclear Mohsen Fakhrizadeh, numa emboscada ainda por reivindicar.

Num comunicado assinado por todos os deputados, acusa-se Israel pela morte de Fakhrizadeh, que Telavive sempre considerou responsável de um programa secreto com que Teerão terá tentado desenvolver armas nucleares. Segundo os parlamentares, o que encorajou os israelitas foi “o pensamento prejudicial de alguns membros do Governo” que acreditam que negociar com os países ocidentais fará do Irão um estado “normal” aos seus olhos.

“Mas as experiências de terror e sabotagem dos EUA, Israel e de outros aliados nos últimos anos mostraram-nos como errada e perigosa é esta forma de pensar”, dizem os deputados. Na mente dos signatários estará o ataque aéreo ordenado por Donald Trump para matar o general Qassem Soleimani, comandante da Força al-Quds, em Janeiro.

Os membros do Parlamento consideram que a melhor resposta é “reviver a brilhante indústria nuclear do nosso país” e defendem que esse objectivo implica o abandono do Protocolo Adicional (medidas voluntárias que aumentam a capacidade de verificar a natureza pacífica de um programa nuclear) e o fim das inspecções por parte da Agência Internacional de Energia Atómica.

Esta posição não podia ser mais diferente do que defendeu, há uma semana, o Presidente iraniano, Hassan Rohani, num discurso em que pediu à futura Administração de Joe Biden para regressar ao acordo de 2015 sobre o nuclear iraniano, abandonado por Trump.

Claro que isto foi antes da morte de Fakhrizadeh e que esta complica, e muito, as intenções de Biden e do centrista moderado Rohani.

A tarefa do Presidente eleito dos EUA torna-se ainda mais difícil porque Rohani deverá ser substituído por um conservador nas presidenciais previstas para Junho – e a posição do Parlamento pode em breve ser partilhada com o chefe de Estado.

Mas a opção da linha dura também enfrenta obstáculos, já que não será possível ao Irão “reviver a brilhante indústria nuclear” sem o levantamento das sufocantes sanções impostas por Trump.

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