Uma casa de banho no quintal

Ou os meus avós viveram numa realidade paralela ou antigamente não era tão bom como alguns parecem empenhados em fazer-nos crer, agarrados a um saudosismo bafiento e dificilmente compreensível.

Foto
Os avós "viram nas louças de uma casa de banho no quintal a maior das suas conquistas" Kevin Laminto/Unsplash

Os meus avós maternos nunca foram à escola. Eram ainda crianças quando começaram a trabalhar no campo e faziam-no de Sol a Sol. Casaram muito jovens e tiveram cinco filhos. Um dia a minha mãe, ainda menina, foi fazer a cama onde dormiam os irmãos rapazes e encontrou uma mancha de sangue. Preocupados, os meus avós levaram o meu tio mais velho ao consultório do dr. Salvador, um médico elevado a santo na vila porque consultava gratuitamente todos os que não podiam pagar, e o diagnóstico caiu como uma bomba: o meu tio João tinha tuberculose pulmonar. Menos de uma semana depois foi internado no antigo sanatório do Lumiar, tendo depois sido transferido para as Penhas da Saúde. Nos cinco anos que lá passou, a minha avó conseguiu ir vê-lo uma vez e, para o fazer, teve de pedir ao patrão que lhe adiantasse o ordenado.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Ler 10 comentários