Covid-19: pressão estabiliza mas podemos chegar às 700 camas de cuidados intensivos ocupadas

De acordo com as previsões da Associação dos Administradores Hospitalares, no dia 4 de Dezembro o total de doentes internados por covid-19 oderá chegar aos 4382, das quais 16% serão em cuidados intensivos.

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Miguel Manso

Pela primeira vez em semanas, a pandemia parece dar um pequeno sinal de estabilização. De acordo com as estimativas da ferramenta criada pela Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), aquele que pode ser o pior cenário para a próxima sexta-feira representa, por comparação com as estimativas de semanas anteriores, um pequeno decréscimo no total de camas ocupadas em enfermaria por doentes com covid-19. Ainda assim, poderão estar internadas nessa altura mais 1174 pessoas do que as 3208 que actualmente estão nos hospitais por causa do Sars-Cov-2.

Nos cuidados intensivos a pressão deverá manter-se elevada: o número de infectados a precisar desses cuidados pode chegar aos 703. São mais 177 do que actualmente.

De acordo com as previsões, no dia 4 de Dezembro o total de doentes internados por covid-19 poderá, assim, chegar aos 4382, dos quais 16% serão em cuidados intensivos. A previsão aponta para um pequeno decréscimo de 4,4% no total de doentes internados nos hospitais em comparação com a estimativa feita para a última sexta-feira para o pior cenário. Já no caso do melhor cenário (que admite uma evolução epidemiológica mais favorável), a previsão aponta para um total de 3281 camas ocupadas no país (entre enfermaria e cuidados intensivos).

“O que a ferramenta nos mostra é que no pior cenário há algum tipo de estabilização. Nas semanas anteriores as estimativas mostravam um crescimento muito acentuado que se esbate para a próxima semana. Mas mesmo assim falamos de 700 camas de intensivos que poderão estar ocupadas com doentes covid”, diz ao PÚBLICO o presidente da APAH. Por isso, Alexandre Lourenço reforça: “Há um sinal de desaceleração da procura, mas não podemos ficar com a ideia de que haverá uma redução do número de doentes internados. Vão continuar a aumentar, mesmo nas regiões mais estáveis.”

Para criar estes dois cenários, que se baseiam nos dados do boletim da Direcção-Geral da Saúde (DGS) divulgado nesta quinta-feira, a ferramenta aplica um risco de transmissão (o chamado Rt) respectivamente de menos 2% e mais 2%. Tem também como referência, validada pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, a percentagem de doentes internados e destes a proporção que precisará apenas de cuidados de enfermaria, de oxigenoterapia e de ventilação mecânica. O objectivo é que os hospitais se possam preparar para a situação mais grave que venha a ocorrer.

De acordo com o pior cenário estimado para o dia 4 de Dezembro, em termos de recursos humanos, poderão ser precisos 1162 médicos, 8098 enfermeiros e 3200 assistentes operacionais, repartidos por enfermarias e cuidados intensivos covid-19. Já quanto ao panorama por regiões, apenas o Centro mostra um alívio, estando as restantes com necessidades previstas muito próximas das estimativas anteriores. O Norte continua a ser a região mais pressionada, prevendo-se até um aumento das necessidades de camas em cuidados intensivos (mais 3,5%).

Preocupação com doentes sem covid-19

O boletim da DGS, que apresenta os números registados nas 24 horas anteriores, dava conta do número mais elevado até ao momento de doentes internados em cuidados intensivos: 526. Já o total de internados também subiu em relação à véspera, para 3208 doentes. A actual situação dos hospitais “é de elevada pressão”, afirma Alexandre Lourenço, referindo que “começou a existir uma colaboração maior entre os hospitais”. “Ainda que não seja da forma ordenada de que gostaríamos, pois ainda continua a existir um desequilibro” na resposta de cada uma das regiões e mesmo entre hospitais.

Na última terça-feira, “a capacidade que tínhamos para acolher doentes covid podia ir numa primeira fase até às 589 camas e depois até às cerca de 1000 camas com prejuízo de outra actividade assistencial e é isso que nos preocupa, como se compreende”, disse a ministra Marta Temido em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença.

“Temos uma grande preocupação com a redução da assistência aos doentes não covid-19. Para nós, é essencial a existência de estruturação em rede para maximizar os recursos de que dispomos. E não a vimos existir”, lamenta Alexandre Lourenço, referindo que essa rede poderia permitir que os hospitais, de acordo com as suas capacidades, se focassem em determinadas áreas. “É preciso encontrar soluções, como alguns hospitais já fizeram de, por exemplo, usar blocos operatórios de outras instituições como militares e do sector social. O que nos parece é que esta questão merece uma coordenação regional e nacional maior”, aponta.

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