Etiópia: Capital de Tigré sob “fortes bombardeamentos”

A esperada grande ofensiva contra a principal cidade da região, em guerra com as forças federais etíopes, começou. Agências humanitárias temem pela sorte de meio milhão de civis.

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Dezenas de milhares de pessoas em fuga de Tigré já chegaram ao Sudão Reuters/MOHAMED NURELDIN ABDALLAH

Dois dias depois de o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ter anunciado a “fase final” da ofensiva do seu Governo contra a Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT), o líder das forças rebeldes diz que a capital da região, Mek’ele, já está sob ataque. Residentes confirmaram ter ouvido explosões no norte da cidade, dizem diplomatas e funcionários de agências humanitárias ouvidos pela BBC.

Segundo Debretsion Gebremichael, líder da FLPT, que governa a província rebelde, Mek’ele está debaixo de “fortes bombardeamentos” e o centro da cidade está a ser atingido por “armas pesadas e artilharia”. Gebremichael falou com a agência Reuters através de mensagens de texto – tem sido muito difícil saber o que se passa no interior de Tigré, com as comunicações telefónicas e de Internet cortadas desde o início do conflito, há pouco mais de três semanas.

Um comunicado da FLPT, divulgado pela AFP, acusa o Governo da Eritreia de estar envolvido no ataque e apela “à comunidade internacional para condenar os ataques aéreos e de artilharia e os massacres que estão a ser cometidos”.

Horas antes, o tenente-coronel Hassan Ibrahim tinha dito, num comunicado, que as forças federais já tinham conquistado Wikro, cidade 50 km a Norte de Mek’ele, e estariam “a controlar Mek’ele em alguns dias”.

Milhares de pessoas já terão sido mortas nos ataques aéreos e combates no terreno, com dezenas de milhares de etíopes a fugirem para o Sudão. E há relatos de massacres cometidos pelos dois lados.

Kenneth Roth, director da Amnistia Internacional, defende que “com provas crescentes de atrocidades, é essencial enviar agora investigadores internacionais”. As denúncias visam tanto as forças da FLPT como as do Governo, assim como as milícias amhara (da região com o mesmo nome), que estão a combater ao lado das tropas federais.

As Nações Unidas e outras organizações internacionais temem pela vida do meio milhão de civis de Mek’ele e pedem que as agências humanitárias tenham acesso à região.

O ministro das Finanças, Ahmed Shide, garantiu na quinta-feira que o Governo estava a tentar avisar as pessoas da operação militar, largando “panfletos para que a população se proteja”. E Billene Seyoum, porta-voz do gabinete do primeiro-ministro, garantiu que as forças etíopes não vão “bombardear” áreas civis e que “a segurança dos etíopes em Mek’ele e na região de Tigré continua a ser uma prioridade para o Governo federal”.

Abiy, Prémio Nobel da Paz em 2019, rejeitou todas as tentativas internacionais de mediação, recusando dialogar com a FLPT, que acusa de “cruzar a última linha vermelha” ao atacar duas bases militares no início do mês. As  tensões entre o Governo e a região vinham de antes: apesar de serem apenas uns 5% da população, os tigrés dominaram o aparelho de Estado durante décadas, até à eleição de Abiy, em 2018.

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