Quando nasce a esperança... proteger é o caminho

Hoje vislumbra-se a existência de vacina e Portugal tem experiência desta planificação; na década de 50/60 foram vacinadas milhares de crianças em todo país. Enfermeiros deslocavam-se nos “Carochas” e “R4” por vales e montes com a sua mala preparada para o efeito às casa do povo, juntas de freguesia, postos de saúde, etc. Hoje serão necessários outros meios, mas o planeamento e organização serão seguramente suportados nos mesmos principios.

As atuais gerações de portugueses, assim como os restantes cidadãos do mundo, não conheceram na sua história o mesmo desafio que a Gripe Espanhola colocou aos nossos avós há 100 anos, à ciência e aos decisores políticos.

Também há 100 anos a 2.ª vaga foi mais devastadora que a primeira...

Também há 100 anos as medidas de prevenção implementadas por Ricardo Jorge, então diretor geral da Saúde, foram semelhantes às de hoje – higiene das maõs, isolamento dos infetados, máscara, encerramento do comércio, proibição de circulação...

Cem anos passados, uma pandemia é sempre uma pandemia perante a qual os meios ao nosso dispor para evitar maior agravamento/extensão depende de uma responsabilidade compartilhada a todos os níveis e por todos os setores: a começar pelos governantes, líderes políticos, líderes sociais e económicos... e, por fim, de cada cidadão, família, bairro, comunidade.

Os comportamentos individuais são fundamentais e não podemos aligeirá-los; contudo, não se pode escamotear a complexa teia de determinantes sociais, económicos, culturais e políticos que lhes estão subjacentes que, por sua vez, são muito diferentes e diversos de contexto para contexto, de grupo para grupo, de comunidade para comunidade. Tratar todos por igual, como iguais, acentua as desigualdades e agrava os problemas.

Mas os 100 anos que nos separam permitiram avanços civilizacionais que suportam a esperança no futuro que desejamos próximo mas que acontecerá com mais ou menos sofrimento se resistirmos aos impulsos imediatos e interajudarmo-nos na serenidade que os tempos exigem.

Hoje dispomos de um SNS que mesmo com as suas fragilidades resiste, adapta-se, reorganiza-se, só possível porque os seus profissionais não desistem de garantir os cuidados de saúde aos seus concidadãos mesmo que trespassados pela angustia de nem sempre conseguirem colmatar todas as necessidades pelos meios que a resposta à pandemia obriga a mobilizar.

Hoje dispomos de tecnologias e de um corpo de profissionais altamente qualificados que permite as respostas mais adequadas, desde o acompanhamento das situações mais ligeiras na comunidade às de fim de linha como são os cuidados intensivos.

Mas todos temos a noção de que os recursos são limitados e que os profissionais também adoecem, tornando-se em menor número para uma necessidade crescente.

Hoje, num tempo recorde, vislumbra-se a existência de vacina, mas ainda não é tempo do seu tempo nem o tempo dos seus efeitos – é tempo de resistir, de esperar e de planear para que no seu tempo seja garantida qualidade e equidade na sua distribuição e na sua concretização, com a afetação dos recursos fisicos e humanos necessários.

Portugal tem experiência desta planificação; na década de 50/60 foram vacinadas milhares de crianças em todo país. Enfermeiros deslocavam-se nos “Carochas” e “R4” por vales e montes com a sua mala preparada para o efeito às casa do povo, juntas de freguesia, postos de saúde, etc.

Hoje serão necessários outros meios, mas o planeamento e organização serão seguramente suportados nos mesmos principios.

Foi anunciado pelo MS que o plano está a ser preparado. Recuperar a confiança que as dificuldades da vacinação da gripe sazonal abalaram exige melhor comunicação, para melhor compreensão, para maior confiança entre todos, em especial dos governados em relação aos governantes e vice-versa.

Para tal é importante que a estratégia nacional seja clara mas, para ser levada à prática, importa ser garantido o envolvimento dos atores locais e agilização da burocracia.

Este desafio é para hoje e não pode ser alheio à discussão do OE para 2021. A parcela da saúde no quadro que vivemos não pode ser minimalista para que possamos preparar o futuro com as lições que a vivência da pandemia nos permitiu – reforçar o SNS com mais recursos humanos e tecnológicos mas também com a necessária transformação da sua organização e gestão no reforço da autonomia tecnica e de gestão centrada nas dinâmicas e rentabilização dos recursos loco-regionais.

O SNS precisa de cada um de nós como cidadãos, profissionais, cientistas e políticos. Ninguém pode estar parado na estação à espera que o comboio passe. 

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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