E se de um dia para o outro tudo colapsar?

Uma minissérie francesa de oito episódios “antecipa” o apocalipse de uma sociedade que se desmorona. O Colapso estreou-se em Portugal na sexta-feira, via Filmin, a plataforma de streaming do cinema independente.

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O Colapso numa bomba de gasolina DR

De um dia para o outro, tudo o que mantinha a sociedade francesa a funcionar desaparece. O pânico instala-se e é cada um por si. É esta a premissa de O Colapso, uma minissérie de oito episódios, cada um a durar entre 15 e 22 minutos e filmado num plano-sequência. Criação do colectivo Les Parasites, composto pelo trio de realizadores e argumentistas Jérémy Bernard, Guillaume Desjardins e Bastien Ughetto, que é também actor, estreou-se na sexta-feira no Filmin, a plataforma de streaming de cinema independente, inserida numa colecção que inclui (outros) filmes sobre o fim do mundo como Snowpiercer, de Bong Joon-ho, ou O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel.

A série estreou-se em Novembro do ano passado no CANAL+  já a covid-19 existia, mas ainda não se sonhava o que aí viria. Ganhou, contudo, uma nova relevância com a pandemia. No primeiro episódio, por exemplo, um supermercado entra em ruptura de stock, os sistemas de pagamento caem, e é impossível controlar o que acontece. Os episódios seguintes seguem outras histórias, com outras personagens, ligadas entre si de forma ténue. “Queríamos explorar como é que um colapso impactaria diferentes sítios, personagens e classes sociais. Não queríamos focar-nos numa heroína ou num herói, mas mostrar toda uma gama de reacções”, explica o colectivo, que assina em conjunto as respostas, por email ao PÚBLICO. “Mesmo que sejam só detalhes, está tudo conectado de uma forma ou doutra”, continuam.

A crise sanitária actual fez disparar outros alarmes. “Digamos que nos lembrou que a nossa série não é uma distopia, mas sim uma antecipação”, afirmam Les Parasites. Sublinham, contudo, “que os visionários são os colapsológos que nos avisam há séculos sobre os perigos que aí vêm”, dizendo-se “alimentados por esses trabalhos”, que tentam traduzir com a sua visão.

“A pandemia entregou-nos às nossas contradições. Escrevemos a série porque nós próprios precisávamos de nos convencer de que esta realidade era mais do que provável, e era uma forma de experimentarmos indirectamente situações possíveis no pós-colapso. Esperamos que, apesar das tragédias deste período da covid-19, tudo isto tenha ajudado a alertar para as falhas na nossa civilização. Mas, infelizmente, parece que quando este período acabar o nosso mundo voltará ao ‘normal’.”

Sem escapatória

Inicialmente só estava planeado haver um episódio em plano-sequência, o segundo, que se passa numa bomba de gasolina. “Auto-produzimos e filmámos esse episódio. Adorámos tanto a experiência que reescrevemos a série toda para ser em plano-sequência”, conta o colectivo. Na altura, a ideia era fazerem um episódio por mês e disponibilizarem-no no YouTube, mas depois apresentaram o projecto ao CANAL+ e ele ganhou outra forma. Foram, dizem, influenciados por Os Filhos do Homem, de Alfonso Cuarón, e Victoria, de Sebastian Schipper.

Um cenário pós-apocalíptico – como o do filme de Cuarón – cola bem com planos-sequência, ainda que o processo, admitem, seja “um desafio de escrita e técnica”, uma vez que a montagem é pré-definida pelo guião e não há possibilidade de mudar muito em pós-produção. O resultado final é “angustiante”, e “mostra-nos um futuro não desejável”. “Queríamos tratar isto da forma mais realista possível e o facto de a história se desenrolar em tempo real reforça a sensação de imprevisto”, continuam. “Não há escolha, não há escapatória possível.” 

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