Chega adia reunião do conselho nacional de dia 29 e desafia PCP a fazer o mesmo com o congresso

Bombeiros de Sintra, onde a convocatória do Chega dizia que se realizaria o encontro, negam qualquer contacto do partido.

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Nuno Ferreira Santos

Apenas um dia depois de ter sido tornado público que o Chega ia realizar uma reunião do seu conselho nacional no mesmo fim-de-semana do congresso do PCP, o partido de André Ventura anunciou que decidiu cancelar o encontro. E vai mais longe: desafia os comunistas a fazerem o mesmo como “uma prova de respeito por todos os portugueses”.

O encontro do Chega deveria juntar pelo menos 60 pessoas e o partido anunciava que seria num espaço dos Bombeiros de Sintra. Mas ainda neste sábado a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Sintra enviou uma nota à agência Lusa em que afirmava ser “falso” que a reunião se fosse ali realizar e que não tinha recebido “qualquer contacto” por parte do partido para a realização da reunião. E acrescentava que as suas instalações só estão “disponíveis para actividades humanitárias e/ou de formação que respeitem o plano de contingência da associação”. Contactada pelo PÚBLICO, a assessoria de imprensa do Chega não tinha ainda explicação para este desmentido dos bombeiros.

Em comunicado, a direcção nacional do partido justifica o passo atrás com as novas medidas de restrições anunciadas ao início da noite pelo primeiro-ministro, que colocam o concelho de Sintra – onde a reunião se iria realizar no domingo, dia 29 –, no escalão intermédio dos concelhos com risco muito elevado (com entre 480 e 960 casos novos por 100 mil habitantes). A mesma classificação que tem Loures, onde o PCP realiza o congresso entre os dias 27 e 29. 

Mas também vinca que “discorda das medidas hoje anunciadas” –​ André Ventura votou contra a renovação da declaração do estado de emergência na sexta-feira de manhã e é contra o uso obrigatório de máscara na rua. Na discussão de sexta-feira, o deputado único do Chega tanto criticou o Governo por declarar “restrições absurdas que mataram comércio e restauração e concentrar e confinar pessoas a horas em que não o deviam ser”, como atacou o PCP por manter a organização do congresso.

Apesar dessa discordância do que Ventura classificou de “estado de engano aos portugueses”, a direcção nacional admite que realizar uma reunião com dezenas de pessoas seria “desrespeitar os milhões de portugueses que são obrigados a permanecer nas suas casas”. O recolher obrigatório às 13h ao fim-de-semana irá manter-se no concelho de Sintra. Por isso, o partido diz que “atira para segundo plano a resolução de questões internas próprias da vida de um partido”.

“Pese embora a importância da reunião em causa, uma vez que a mesma visa discutir temas urgentes sobre a vida interna do partido, a direcção nacional do Chega entende que, face às restrições que estarão em vigor no próximo fim-de-semana, é necessário proceder ao adiamento da reunião”, lê-se no comunicado. O conselho nacional iria ratificar a decisão do conselho de jurisdição nacional de suspensão do presidente da distrital do Algarve, a pedido de André Ventura. E esse processo tem um prazo máximo de 15 dias para ser ratificado por dois terços dos elementos do conselho nacional.

O Chega “insta” o PCP a “seguir o seu exemplo e a adiar a realização do seu congresso” como “prova de respeito” pelos portugueses, em especial os que são obrigados a encerrar os negócios sob a ordem do recolher obrigatório.

Mas o partido Chega, quando organizou a sua convenção nacional no final de Setembro, em Évora, também não cumpriu com as normas que já então estavam em vigor sobre o uso de máscara em recintos fechados nem as de distanciamento social. Numa mesma tenda, sentados em mesas e a menos de meio metro entre si estavam cerca de 600 delegados. Mesmo André Ventura circulava sempre sem máscara e cumprimentava livremente os apoiantes sem qualquer distanciamento. A GNR chegou a fazer uma acção de fiscalização e identificou pelo menos três pessoas por não usarem máscara. E o partido tem insistido nessa postura de maior laxismo sobretudo nos jantares-comício que tem feito desde o Verão, como um em Outubro, no Porto, que juntou aproximadamente 300 participantes (metade dos delegados que o PCP terá no seu congresso).​

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