Viver o que está longe para não viver o que está perto

Claro que a derrota de Trump é algo que se celebra. Claro que a eleição mais participada nos E.U.A. é significativa. Claro que a chegada de Kamala à vice-presidência é simbólica. Claro que num ano como o de 2020 parece haver a tendência para colar a eleição de Biden a uma espécie de salvação. Um sinal aguardado para uma reviravolta política idealizada para o mundo, mesmo que a solução vencedora represente a manutenção de uma certa forma de estar e fazer política. Sente-se com esta eleição um ambiente de regresso à normalidade conhecida. Tudo isso é compreensível, ainda por cima, no contexto de instabilidade que vivemos. No entanto, este é apenas um lado da história, como é habitual. Ou seja, a sensação é de que, muitas vezes, o exercício de crítica e/ou apoio público se foca mais em falar para dentro, para nós próprios, para quem pensa como nós, numa procura de validação e de reforço de uma esperança, foragida nestes tempos, que não será à partida negada pelos mais próximos. O outro lado da história que, raras vezes, se conta e que se quer longe de nós, é que a percentagem da votação em Trump foi muito expressiva, na mesma eleição mais participada nos E.U.A., sendo de extrema importância entender o que isso representa. Ou então, recorrendo a outro exemplo, considerar os índices de apoio a Bolsonaro que vêm a público e continuam a ser positivos. Sim, é relevante não antecipar que como por efeito dominó a saída da presidência de Trump contagiará, magicamente, uma situação similar no Brasil.

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