MotoGP encerra ano de velocidade pura no desporto motorizado português

Miguel Oliveira faz as honras da casa em Portimão, que em tempos de pandemia acelerou rumo ao futuro com os regressos da Fórmula 1 e do Mundial de motociclismo.

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Miguel Oliveira faz as honras da casa no Grande Prémio de Portugal LUSA/EDDY LEMAISTRE

O Campeonato do Mundo de MotoGP regressa a fundo, já neste fim-de-semana – após oito anos de saudade – a Portugal, na “montanha russa” do Autódromo Internacional do Algarve (AIA), em Portimão, para uma despedida em grande de 2020.

Com o título entregue ao maiorquino Joan Mir, compete a Miguel Oliveira fazer as honras de uma casa sem bancadas, mas de alma e coração repletos graças a uma inédita “colheita” de campeões – seja em duas ou quatro rodas – que este ano deliciou os portugueses.

Com 100 pontos – mais do triplo dos conquistados no ano de estreia na classe rainha – a fechar o top 10 e ainda com um par de degraus para poder planar sobre o ranking, o “falcão” está pronto para fechar com chave de ouro uma época em que chegou, inclusive, a acreditar no “impossível”…

Exactamente com o mesmo nível de fé que levou Filipe Albuquerque a vencer as 24 Horas de Le Mans, sem esquecer o Mundial (WEC) e Europeu de Resistência (ELMS) na categoria LMP2. A mesma tenacidade que guiou Félix da Costa à conquista do campeonato do Mundo de Fórmula E. Os tais campeões que abalaram as certezas de um país que terá, inevitavelmente, que mudar de velocidade para poder acompanhar os novos tempos de sucesso motorizado.

Em plena pandemia, do caos do cancelamento de grandes prémios que reduziu o calendário a 14 provas, também o Autódromo Internacional do Algarve deixou o exemplo, emergindo com a aposta no improvável regresso da Fórmula 1 e do MotoGP a território nacional. O AIA posiciona-se, aliás, como circuito de reserva prioritário em 2021 e 2022, apontando a uma integração no calendário dentro de duas épocas.

Agora, é hora de desfrutar, sem abdicar do futuro reescrito pelos novos campeões, depois de uma década de dedicação e sacrifícios. O fim-de-semana é, por excelência, o grande momento de Miguel Oliveira, que se despede da Tech3 para assumir, em 2021, o lugar de Pol Espargaró (7.º) na KTM oficial… ao lado do sul-africano Brad Binder (11.º, a 13 pontos), a principal ameaça ao português, em Portimão.

Momento que serve para, aos 25 anos, colocar a carreira em perspectiva, depois da estreia no Campeonato do Mundo de velocidade (no Qatar)​ em 2011, na categoria de 125cc, em que garantiu o sétimo lugar no Grande Prémio de Portugal, no Estoril, prova que sairia de cena no ano seguinte.

Volvida quase uma década, marcada pelos títulos de campeão em Moto3 (2015) e Moto2 (2018) que escaparam, respectivamente, por 6 e 9 pontos, Miguel Oliveira volta a casa com novo estatuto, reforçado por 35 pódios (13 vitórias), o mais alto ainda fresco na memória colectiva, com a primeira vitória em MotoGP, no GP da Estíria, na Áustria, este ano.

“Disputar um Grande Prémio em casa é o suficiente para estar ainda mais motivado. Ainda mais por ser a última corrida da época, numa pista complicada e praticamente desconhecida para muitos pilotos e equipas, em termos de especificações”, reconheceu Miguel Oliveira, entusiasmado com a possibilidade de vencer em Portimão.

“Será interessante ver como se desenrola o fim-de-semana, em que espero ser competitivo para poder lutar pelas primeiras posições… por um pódio ou pela vitória. Seria o concretizar de um sonho e espero estar totalmente focado na corrida”, propõe, decidido a repetir o triunfo do Red Bull Ring.

Um marco na trajectória de Miguel, a levar muitos portugueses a acreditarem que o jovem do Pragal poderia, inclusive, imiscuir-se na discussão do título. Uma utopia que nos é, agora, explicada de uma forma muito menos absurda: basta tomar como ponto de comparação o atalho assumido por Joan Mir, que nessa altura tinha apenas mais três pontos do que o português, arrancando para um título tão inesperado como incontestável.

Sabendo-se que o espanhol, de 23 anos, competiu pela primeira vez em 2018, em Moto2, com Oliveira, e concluiu o Mundial em sexto, a 142 pontos do português (vice-campeão a meros nove pontos de Francesco Bagnaia), não custa admitir que o “falcão” só precisava de alguma sorte e outra regularidade, já que ambos venceram apenas um Grande Prémio em 13 possíveis.

Isto, sem ignorar que no ano de estreia de ambos em MotoGP, em 2019, Joan Mir ficou cinco lugares (12.ª) e 59 pontos (92 contra 33) à frente de Miguel Oliveira.

Mas essa é uma história que pode ser corrigida, especialmente depois de ter ficado claro que os milagres também dependem da fé e da capacidade de ultrapassar todos os obstáculos.

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