Com o inverno à porta, será preciso recorrer a contentores frigoríficos para armazenar cadáveres?

O problema não se coloca ainda, mas presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas alerta para a necessidade de pensar nesse cenário

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LUSA/Marcos Pin

Para já, é só um alerta do presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas, Carlos Almeida. Tendo em conta a chegada do frio e previsível aumento de mortos, os hospitais vão precisar de contentores frigoríficos, como aconteceu na primeira vaga de covid-19.  

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Para já, é só um alerta do presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas, Carlos Almeida. Tendo em conta a chegada do frio e previsível aumento de mortos, os hospitais vão precisar de contentores frigoríficos, como aconteceu na primeira vaga de covid-19.  

Quando o novo coronavírus se começou a propagar em Portugal, o país estava a sair do Inverno e a entrar na Primavera. “Agora, é ao contrário”, sublinha aquele dirigente. O país está no Outono, aproxima-se o Inverno, estação que costuma trazer ondas de frio e surtos de gripe que, por si só, provocam maior mortandade, sobretudo entre os mais velhos e mais frágeis.

Na primeira vaga de covid-19, houve um reforço daquela resposta em diversos hospitais, cemitérios, estruturas de medicina legal. Na Grande Lisboa, por exemplo, foram colocados contentores no Hospital Curry Cabral, no parque de estacionamento do Instituto de Medicina Legal e no cemitério da Amadora. “Os hospitais que conheço abandonaram esse reforço”, diz Carlos Almeida. “Isso vai trazer dificuldades a breve prazo.”

“Há sempre maneiras de resolver o problema, embora com investimento”, comenta Carlos Moniz Carreira, presidente da Associação Portuguesa de Profissionais de Sector Funerário. Em Abril e Maio, a empresa que dirige, que soma quase 70 agências distribuídas pelo país, chegou a alugar um contentor com capacidade para armazenar até 60 cadáveres. “As câmaras frigoríficas podem rapidamente ser instaladas em contendores, hospitais, agências funerárias ou cemitérios”.

A Direcção-Geral de Saúde não concentra esta informação. O Centro Hospitalar Universitário de Lisboa – que abarca o Curry Cabral, o São José, o Dona Estefânia – garante o gabinete de comunicação que o problema não se coloca. No Centro Hospitalar de São João, no Porto, também não.

Carlos Almeida reconhece que não conhece nenhum hospital que já esteja sem espaço. “Temos de estar preparados para esse cenário. Neste momento, já há uma percentagem maior de pessoas que morrem com covid-19 e sem covid-19. Penso que a segunda vaga está para durar.”

Um dos problemas que coloca é o do risco de “acumulação de cadáveres não reclamados”. Esses ficam na alçada da justiça. E a esse respeito, Francisco Corte-Real, presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, diz que, para já, “todos os cadáveres estão em condições de refrigeração”. “Para já não há necessidade de aumentar a capacidade. Se houver, cá estaremos. Fizeram reforço na primeira vaga e nalguns casos ainda se mantém esse reforço.”