As infecções de origem desconhecida, os contágios em família e nos restaurantes: os números revelados no Infarmed

Encontros de peritos, políticos e parceiros sociais regressarão de 15 em 15 dias.

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Marcelo e Costa na reunião do Infarmed LUSA/ANTónIO COTRIM

8 – Os especialistas que apresentaram os seus estudos — e números — na 12.ª reunião do Infarmed, que se realizou nesta quinta-feira, em Lisboa. No final do encontro, ficou a saber-se que o primeiro-ministro pretende retomar estas reuniões quinzenais que juntam peritos, políticos e parceiros sociais e que servem para partilhar informações sobre a evolução da pandemia. Entre 24 de Março e 8 de Julho houve dez sessões, todas no auditório do Infarmed em Lisboa, e depois do Verão houve apenas uma (a 7 de Setembro) no Porto e esta (a 19 de Novembro) em Lisboa.

80% – Percentagem das novas infecções que têm origem desconhecida. Uma das ideias que saíram da reunião entre políticos e técnicos de saúde aponta para o desconhecimento da causa de contágio em novas infecções. O deputado do PSD Ricardo Baptista Leite afirmou que, nas últimas semanas, “80% das novas infecções decorreram sem se compreender como é que estas pessoas se infectaram”. “Somos um barco à vela a navegar às escuras e sem bússola”, lamentou. 

1,1 – Embora o número de novos casos diários continue a subir, a taxa de transmissibilidade do novo coronavírus está a descer. Foi isso que afirmou Manuel do Carmo Gomes, investigador da Faculdade de Ciências de Lisboa, na reunião desta quinta-feira. O especialista disse que há “uma tendência a nível nacional” de descida do índice R, que determina quantas pessoas um infectado pode contagiar. O valor actual do R estará em 1,11 e nos modelos de evolução apresentados no Infarmed, deverá estar em 1 no fim de Novembro e princípio de Dezembro.

7000 – Na transição de Novembro para Dezembro, explicou Manuel Carmo Gomes, projecta-se que o número médio de novos casos por dia atinja os 7000. Por isso, defendeu o especialista, é preciso “descer o R significativamente para um nível gerível em termos de entradas hospitalares”. Mesmo que se consiga uma redução do R para 1, a incidência de novos casos por dia pode manter-se em vários milhares, entrando-se “num planalto do qual não é fácil sair”. Hoje, a média diária de novos casos situa-se nos 6488. Baltazar Nunes, outro dos peritos que intervieram, disse que os países europeus que conseguiram baixar o índice de transmissibilidade são os que aplicaram “medidas mais restritivas e apresentam níveis de mobilidade mais baixos”.

11 – Há 11 dias consecutivos que o número de doentes em cuidados intensivos está a aumentar. João Gouveia, presidente da Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva, teme que o sacrifício seja a assistência a doentes não-covid. A duas semanas do pico de casos, a taxa de ocupação dos cuidados intensivos dedicados à covid-19 está nos 84%, mas há já unidades de serviço no Norte do país que ultrapassaram a sua capacidade, alertou.

14% – O Governo justificou o recolher obrigatório com a percentagem de pessoas que são infectadas em contexto familiar. No entanto, o rigor dos números apresentados nessa altura saíram beliscados da reunião desta quinta-feira com peritos. “Quando ouvimos que 68% das pessoas se teriam infectado em contexto familiar, hoje percebemos que na verdade é uma percentagem muito mais pequena, porque objectivamente não se sabe. E quando não se sabe, não se conseguem tomar medidas assertivas”, considerou Ricardo Baptista Leite. Isto, porque os 68% referidos há cerca de duas semanas pelo primeiro-ministro dirão respeito ao universo dos casos em que a forma de contágio é conhecida, ou seja, a apenas cerca de 20%. Assim, o contexto familiar é a origem confirmada de apenas cerca de 14% das infecções.

2% – Apenas 2% dos contágios acontecem, comprovadamente, nos restaurantes. Numa altura em que o Governo é pressionado a reduzir as restrições em relação aos restaurantes, o dirigente comunista Jorge Pires revelou que na reunião do Infarmed foi divulgado um estudo que mostra que “apenas 2% dos casos de transmissão acontecem nos restaurantes”. Também o presidente do Chega, André Ventura, mostrou preocupação com a perda de postos de trabalho no sector e revelou-se mais confiante que desta vez o tribunal decida a favor do Chega que interpôs uma acção para que sejam levantadas as restrições aos restaurantes. E a IL pediu “equilíbrio” entre o combate à pandemia e as medidas com impacto económico.

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