Braga: 68% dos não utilizadores adeririam à bicicleta com ciclovias entre casa e trabalho

Essa é uma das conclusões da tese de doutoramento de Mário Meireles, presidente da associação Braga Ciclável, que se tem dedicado à promoção dos meios suaves na cidade. O autor conclui ainda que o uso de um aplicativo móvel que meça velocidades, calorias e poupança de dióxido de carbono pode incentivar o uso da bicicleta.

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Paulo Pimenta

Entre os bracarenses que não pedalam, há vários disponíveis para mudarem de hábitos se garantidas as infra-estruturas e a segurança necessárias à circulação. Mais de dois terços dos habitantes da cidade (68,1%) dizem mesmo que aderem às duas rodas com “ciclovias seguras entre casa e o trabalho”. Essa é uma das conclusões da tese de doutoramento Mobilidade Urbana Sustentável centrada no uso da bicicleta. Um sistema digital, integrado, partilhado e inteligente, defendida por Mário Meireles na Universidade do Minho (UMinho) em 09 de Novembro, retratando um estudo de caso de Braga. Presidente da associação Braga Ciclável, o autor considera que, sem ciclovias, todo o esforço para a difusão da bicicleta é “em vão”. “As infra-estruturas são essenciais, algo que vai ao encontro da literatura”, reitera.

Mas há outros motivos que fariam os bracarenses mudarem de ideias, descritos na tese consultada pelo PÚBLICO. Para 28,9% dos 720 inquiridos, numa amostra correspondente aos bracarenses que se deslocam no seio do concelho mas nunca recorrem à bicicleta, o veículo de duas rodas é uma opção se se “garantir que os carros andam a uma velocidade reduzida”, num município que foi o “sexto do país com maior número de acidentes com vítimas” em 2018,

Também a existência de chuveiro ou balneário no trabalho (23,5%), a mudança de residência para um local mais próximo do trabalho (21,9%) e a garantia de estacionamento no trabalho (21,3%) são incentivos à circulação sobre duas rodas. Houve ainda uma minoria que se revelou indisponível para andar de bicicleta: 8,3% dos inquiridos não mudam, por não gostarem do veículo, enquanto 0,7% não o tencionam fazer por ter um “estatuto social a manter”.

Os motivos invocados para a mudança vão ao encontro das principais barreiras à mobilidade ciclável identificadas pela tese, como a própria ausência de bicicleta (27,2% dos inquiridos) e a segurança, com 57% das pessoas a assumirem que não é “confortável andar no meio do tráfego”.

Nesta obra, Mário Meireles enquadra o maior concelho minhoto nas starter cycling city (cidades cicláveis principiantes e iniciantes, na terminologia portuguesa), categoria que abrange quase todos os concelhos nacionais. No caso bracarense, está prevista a implementação de 76 quilómetros de ciclovias desde a revisão ao PDM aprovada em 2015, mas estão implementados somente oito, segundo se lê no documento. Em Portugal, as excepções são Murtosa, o município mais bem cotado no Bike Friendly Index de 2018, e Lisboa, que “está a puxar pelo país”, ao apresentar incentivos ao uso da bicicleta, diz Meireles.

A tese teve a orientação de Paulo Ribeiro, especialista em transportes e mobilidade sustentável da UMinho que diz existirem três eixos fundamentais para a alteração da mobilidade nas cidades de Portugal: “infra-estruturas, educação a promoção dos meios suaves”.

Com aplicativo móvel também se vai lá

Outra das conclusões é a de que o uso de um aplicativo móvel durante a viagem pode incentivar a circulação sobre duas rodas; entre os não utilizadores, 64,2% “consideram que um aplicativo pode influenciar a adopção da bicicleta como modo de transporte”, indica a tese.

Neste doutoramento, Mário Meireles experimentou o uso do aplicativo Ciclómetro junto dos 275 inquiridos que usam o veículo. Além de confirmarem distâncias e velocidades, eles puderam medir as variações das altitudes, o consumo de calorias e a quantidade de dióxido de carbono poupado face ao automóvel. Numa das fases do estudo, os ciclistas beneficiaram ainda de 50 euros em compras. “Com o incentivo financeiro, verificou-se um ligeiro acréscimo de utilizadores”, diz o autor.

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