António Lobo Antunes : com o fantasma de um herói, à procura da linguagem universal

Júlio Fogaça é o pretexto para a busca de um modo certo de dizer em mais um livro de António Lobo Antunes. Que parece, cada vez mais, estar a escrever um livro único. É a vez de Diccionário da Linguagem das Flores.

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O exercício de linguagem parece ter transformado os últimos romances de Lobo Antunes num único livro... Nuno Ferreira Santos

A notícia de que o novo romance de António Lobo Antunes era sobre Júlio Fogaça, o histórico do Partido Comunista que o partido quis apagar da sua história, só podia ser um exagero. Ele é, de facto, o núcleo de Diccionário da Linguagem das Flores — assim se chama o livro —, mas recriado ao serviço das obsessões do escritor e um meio para prosseguir o seu retrato social, muito íntimo, do país, neste caso em meados do século XX, com a luta de classes, o pouco contraste entre a vida rural e a suburbana, a clandestinidade do combate ao regime, a decadência de uma certa aristocracia ou comportamentos ambíguos de uma sociedade beata cheia de pecadilhos e perversões. Isso sempre de forma pouco explícita, dado através do exercício de linguagem que parece ter transformado os últimos romances de Lobo Antunes num único livro, o do seu próprio questionamento acerca da vida, da identidade, da capacidade da linguagem para apreender um sentido nunca encontrado de outro modo.

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