Ásia
Manifestantes pró-democracia na Tailândia responderam à polícia com patos de borracha. E os patos ganharam
Um novo movimento liderado por estudantes nasceu em Julho para protestar pela reforma do regime e da realeza tailandesa. Os protestos de terça-feira foram os piores desde que o movimento emergiu e os manifestantes tentaram ser criativos na hora de se defender contra a polícia.
Desde Julho que se reclama por democracia nas ruas da Tailândia. Apesar das constantes e acrescidas restrições do Governo tailandês, os manifestantes continuam a gritar pela demissão do primeiro-ministro Prayuth Chan-ocha e pela reforma do regime monárquico liderado pelo rei Maha Vajiralongkorn.
É uma atitude perigosa. A lei tailandesa prevê uma pena pesada para o crime de lesa-majestade: críticas ao rei, figura presente em todo o país nos edifícios públicos, em lojas, teatros, cinemas, etc., ou à sua família, podem valer 15 anos na prisão.
Apesar das ameaças e do regime de Prayuth, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 2014, ter aproveitado o estado de emergência para banir protestos, os jovens e estudantes tailandeses, cada vez menos tímidos em expressar e vociferar o seu descontentamento para com a falta de atitudes democráticas no país, pensaram em formas diferentes de confrontar as autoridades nas ruas de Banguecoque.
Na capital tailandesa, os manifestantes procuraram pressionar os deputados que discutem entre terça-feira e quarta-feira no parlamento possíveis revisões constitucionais. Do lado do parlamento, a polícia, armada com canhões de água e gás lacrimogéneo e um grupo de apoiantes do regime, numa contramanifestação; do outro, os manifestantes com patos de borracha, usados como coletes insufláveis, gigantes e amarelos.
No final, ganharam os patos. Os manifestantes aguentaram seis horas de confrontos, até que a polícia abandonou o local com os carros de combate grafitados e marcados pela batalha. "Anuncio a intensificação dos protestos. Não vamos desistir. Não haverá nenhum compromisso", disse um dos líderes do movimento juvenil, Parit "Penguin" Chiwarak, às portas do parlamento tailandês.
Mas a vitória saiu cara ao movimento. Na tentativa de furar o perímetro em torno do parlamento, composto por barreiras de betão e arame farpado, pelo menos 55 pessoas ficaram feridas. Algumas tinham ferimentos provocados por munição, o que levou a organizações não-governamentais a pedir explicações à polícia de Banguecoque.
Segundo contou o Centro Hospitalar Erawan à agência Reuters, dos 55 feridos, seis pessoas apresentavam ferimentos provocados por balas e 32 sofreram devido ao gás lacrimogéneo.
A polícia negou que foram usadas balas verdadeiras, ou sequer balas de borracha. Numa conferência de imprensa, o chefe da polícia de Banguecoque, Piya Tavichai, disse que a polícia apenas tentou proteger o parlamento e quem "tenta evitar confrontos". Já o porta-voz do Governo, Anucha Burapachaisri, disse que apenas foi autorizado o uso de gás lacrimogéneo e canhões de água. Mas as autoridades já prometeram que vão investigar quem poderá ter usado armas de fogo.
Há novos protestos pró-democracia marcados para esta quarta-feira e os patos de borracha já voltaram a Banguecoque. Os manifestantes já fizeram saber que não querem que a monarquia seja abolida, apenas que seja revista constitucionalmente e que os poderes do rei Maha Vajiralongkorn sejam reduzidos - o rei é também criticado por passar muito tempo na Alemanha, onde o filho estuda, e por encabeçar uma das monarquias mais ricas do mundo.
Mas o primeiro-ministro Prayuth, cuja reeleição continua a ser altamente contestada, tem de sair, avisam os manifestantes. No entanto, a tarefa de mudar a constituição e de primeiro-ministro será complicada: não só Prayuth recusa demitir-se, mas a alta câmara do Senado é completamente controlada pelo líder do Governo, que nomeou membros da junta que o ajudou a chegar ao poder em 2014.