O estado de emergência não é só para os cidadãos

Se o Governo foi célere e duro a exigir medidas restritivas aos portugueses, está na hora de os portugueses exigirem celeridade e determinação ao Governo.

No curto período de dias, o Governo foi capaz de pedir uma declaração de estado de emergência ao Presidente da República, foi capaz de a regulamentar por decreto, conseguiu reter em casa toda a população do país ou impor o encerramento de milhares de lojas e restaurantes com evidentes prejuízos para os seus proprietários. Mas, passada mais uma semana depois do anúncio que convocava os cidadãos para a necessidade de uma acção colectiva para travar a escalada dos contágios, o Governo continua sem fazer uma parte importante do que se comprometeu fazer. Os testes rápidos, que em Espanha foram considerados instrumentos essenciais para travar a epidemia, não estão disponíveis e, mais, nem as escolas nem os lares sabem ainda quando os vão ter, nem sequer os procedimentos que devem adoptar. E o reforço das equipas de rastreadores, a recrutar no seio da administração pública, continua à espera de um despacho que fixe as regras para a sua convocação e funcionamento.

Se o Governo foi célere e duro a exigir medidas restritivas aos portugueses, está na hora de os portugueses exigirem celeridade e determinação ao Governo. Se há um estado de emergência para responder a uma ameaça terrível à nossa saúde ou à nossa economia, todos têm de responder com o sentido de urgência que a situação requer. Os cidadãos responderam, mas o Governo continua embrulhado no labirinto da burocracia, nos buracos dos pequenos poderes, na inércia das grandes indecisões. Se os testes rápidos ou o reforço das equipas de rastreio foram razões que justificaram as restrições das liberdades, direitos e garantias dos cidadãos, também deviam forçar a administração do Estado a abdicar da sua rotina e a responder à altura das necessidades do país.

É por isso importante perceber o que está a acontecer e explicar as causas de tanta demora e indecisão. Dizer que em cima da mesa estão decisões complexas, que exigem respeito por direitos, cadeias logísticas ou fundamentação técnica não basta. Há uma inadequação no Governo à gravidade da crise. O Governo está demasiado dependente do primeiro-ministro e, à falta de um número dois com autoridade, o que se pressente em tanta burocracia e indecisão é o tradicional combate surdo entre ministérios que paralisa a administração.

Na hora mais negra da pandemia, António Costa devia olhar para esses bloqueios e nomear alguém com autoridade para coordenar o combate. Uma semana sem testes rápidos ou uma semana sem reforço no rastreio é tempo de mais para um esforço no qual cada segundo conta para se evitarem males maiores.

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