Covid-19: ex-advogada arrisca cinco anos de prisão por divulgar surto em Wuhan

Zhang Zhan está detida há seis meses por publicar vídeos nas redes sociais sobre a surto de covid-19 em Wuhan. Em Setembro, iniciou uma greve de fome na prisão.

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Zhang Zhan foi detida em Maio por espalhar “informação falsa" sobre o surto de covid-19 em Wuhan Chinese Human Rights Defenders (CHRD)

Uma ex-advogada, detida na China por divulgar informações sobre o surto de covid-19 em Wuhan no início da pandemia, arrisca-se a uma pena de prisão que pode ir até aos cinco anos, depois de ter sido acusada de espalhar informações falsas.

Zhang Zhan, de 37 anos, foi detida em Maio. Desde Junho, está num estabelecimento prisional em Xangai, e, segundo o The Guardian, está acusada de “criar conflitos e problemas”, uma acusação usada frequentemente pelas autoridades chinesas contra activistas e críticos do regime de Xi Jinping.

De acordo com a acusação, revelada pelo jornal britânico, Zhan está acusada de espalhar “informação falsa através de texto, vídeo e outros suportes através da Internet, tais como o WeChat, Twitter e YouTube” e de ter dado entrevistas em que “especulou maliciosamente” sobre a epidemia de covid-19 em Wuhan, onde o coronavírus foi detectado pela primeira vez no final de 2019.

Zhan viajou em Fevereiro para Wuhan, na altura o epicentro da epidemia de coronavírus. Nas suas reportagens, denunciou várias detenções de jornalistas que estavam a fazer a cobertura do surto naquela província chinesa, bem como a pressão das autoridades chinesas sobre os familiares das vítimas de covid-19. Entrevistou ainda comerciantes e habitantes locais que perderam o emprego devido ao confinamento, tecendo críticas ao Governo chinês pela gestão da pandemia.

A activista foi detida pela primeira vez a 15 de Maio, tendo, um mês depois, sido levada para um centro de detenção em Xangai, onde ficou a aguardar acusação.

No início de Setembro, segundo a organização não-governamental Chinese Human Rights Defenders (CHRD), Zhan iniciou uma greve de fome, tendo as autoridades forçado a ex-advogada a alimentar-se.

Numa visita no final de Setembro, o seu advogado referiu que Zhan estava “magra e fraca”, e desde então referiu que o contacto com a sua cliente tem sido dificultado pelas autoridades chinesas, tendo um dos advogados sido afastado do caso.

Antes de ser presa por divulgar informações sobre a gestão da pandemia, Zhang Zhan já tinha sido detida pelas autoridades chinesas em 2018 e 2019 por demonstrar apoio aos manifestantes pró-democracia em Hong Kong. Nessas ocasiões, foi também acusada de “criar conflitos e problemas”, mas escapou à prisão.

Antes de Zhang Zhan, outros jornalistas foram detidos pela cobertura do surto de covid-19 em Wuhan. Li Zehua foi detido em Fevereiro, depois de ter viajado para Wuhan para fazer cobertura da detenção do advogado e jornalista Chen Qiushi.

Na mesma altura, Fang Bin, um empresário de Wuhan, foi detido por ter publicado vídeos no interior dos hospitais da região. Desde então, o seu paradeiro é desconhecido.

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